Com um apoio em massa dos democratas, Kamala Harris prometeu vencer as eleições presidenciais americanas contra Donald Trump, que comparou a “predadores” e “trapaceiros” em discurso nesta segunda-feira, após a desistência de Joe Biden da disputa.

A vice-presidente americana injetou otimismo na equipe de campanha em Delaware, onde Biden se recupera da covid-19, e entrou no ringue sem rodeios.

“Ouçam-me quando digo que conheço o tipo de Donald Trump”, disse Kamala, remontando à epoca de procuradora na Califórnia, quando precisou lidar com “predadores que abusaram de mulheres, fraudadores que enganaram consumidores, trapaceiros que quebraram as regras em benefício próprio”.

“Lutaremos pela liberdade reprodutiva, sabendo que, se Trump tiver a oportunidade, assinará uma proibição do aborto para todos os estados”, ressaltou a democrata, em seu primeiro discurso eleitoral desde que Joe Biden desisitiu da disputa.

‘Vamos ganhar’

“Vamos ganhar”, afirmou Kamala, que admitiu “uma montanha-russa” de emoções após a desistência do presidente. “Eu amo Joe Biden”, reiterou, horas após ressaltar na Casa Branca que o legado dele “é inigualável na história moderna”.

“Ela é a melhor”, disse o presidente americano, durante uma chamada ao vivo antes do discurso de Kamala.

Os democratas parecem ter deixado para trás a crise interna sobre a capacidade física e mental de Biden e passado a olhar para o futuro, a pouco mais de três meses das eleições. O partido prometeu “um processo transparente e ordenado” para substituir Biden, e deve nomear oficialmente seu candidato na convenção de agosto em Chicago.

Kamala é a grande favorita, após receber apoio não apenas de Biden, mas também do ex-presidente Bill Clinton e de sua mulher, Hillary, ex-secretária de Estado, e ainda da ex-presidente da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi.

Vários governadores também apoiaram Kamala, alguns deles considerados potenciais concorrentes: Gretchen Whitmer (Michigan), Gavin Newsom (California), Wes Moore (Maryland), Andy Beshear (Kentucky) e J.B. Pritzker (Illinois). Além disso, boa parte dos congressistas democratas, tanto moderados quanto progressistas, como Alexandria Ocasio-Cortez, uniram-se em torno dela.

Segundo a rede de TV CNN, que fez uma contagem por estado, a vice-presidente dos Estados Unidos conta com o apoio suficiente de delegados democratas para ser nomeada candidata à Presidência pelo partido.

Para garantir a indicação democrata, Kamala precisa do apoio de pelo menos 1.976 delegados, de um total de quase 4.000, na votação oficial que vai acontecer durante a convenção do Partido Democrata, em 19 de agosto.

Minutos depois, a vice-presidente declarou-se “orgulhosa” por ter “o amplo apoio necessário” dos representantes partidários e disse que espera “aceitar formalmente” a nomeação em breve.

Arrecadação recorde

A possível candidatura de Kamala injeta otimismo em uma eleição que seria disputada por dois políticos em idade avançada e impopulares entre muitos eleitores. Sua equipe afirma que ela arrecadou um recorde de US$ 81 milhões (R$ 450,3 milhões) em 24 horas apenas com contribuições de pequenos doadores.

Kamala não anunciou uma data para a nomeação nem esclareceu quem escolheria como companheiro de chapa. Se os democratas não chegarem a um acordo, uma convenção aberta a outros candidatos poderia ser realizada em Chicago.

A candidatura democrata já estava na corda bamba desde o desempenho desastroso de Biden no debate de junho contra Trump, que saiu mais forte e vive dias de glória após sobreviver a uma tentativa de assassinato e participar de uma convenção republicana em que foi ovacionado.

Do lado republicano, o anúncio afetou a candidatura de Trump, obrigando-o a rever sua estratégia eleitoral, muito focada em apresentar Biden como um homem senil, confuso e desajeitado.

Esses argumentos podem se voltar contra o republicano caso ele enfrente Kamala Harris, quase 20 anos mais jovem.

O nervosismo é palpável, apesar de pesquisas recentes darem a Trump uma estreita vantagem sobre Harris (48% das intenções de voto contra 46%).

O senador J. D. Vance, companheiro de chapa de Trump, denunciou nesta segunda um processo “antidemocrático” para derrubar Biden, que seria tecido secretamente por uma elite sob a influência de Obama e do financista George Soros.