18/01/2021 - 8:49
Kamala Harris fará História na quarta-feira, quando for empossada como a primeira vice-presidente dos Estados Unidos, abrindo a via para a administração da Casa Branca mais diversa que o país já viu e ajudando a pôr um fim ao turbulento governo de Donald Trump.
Harris já tinha sido pioneira, ao se tornar a primeira procuradora-geral negra da Califórnia e a primeira mulher de origem do sul da Ásia eleita para o Senado.
Ao chegar à vice-presidência, ela estará a um passo de liderar os Estados Unidos.
Com a promessa de Biden, de 78 anos, de cumprir um único mandato, Harris seria favorecida a ganhar a indicação presidencial do Partido Democrata em 2024.
Isto poderia colocá-la diante de um novo marco histórico: o de se tornar a primeira mulher a presidir os Estados Unidos.
“Esta eleição é sobre muito mais do que Joe Biden e eu”, escreveu Harris no Twitter depois que a imprensa americana indicou que a eleição os favorecia com base em seus resultados estaduais.
“Trata-se da alma dos Estados Unidos da América e da nossa disposição em lutar por ela. Nós temos muito trabalho pela frente. Vamos começar”, acrescentou.
Após ser apontada como companheira de chapa de Biden, em agosto, ela condenou Trump pela gestão caótica da pandemia de covid-19, mas também pelo racismo, pela economia e pela repressão à imigração.
Harris, de 56 anos, é filha de imigrantes radicados nos Estados Unidos. Seu pai, jamaicano, sua mãe, indiana, e ela mesma são a personificação do sonho americano.
– “Eu estou falando” –
Kamala Harris nasceu em 20 de outubro de 1964 em Oakland, Califórnia, então um epicentro do ativismo anti-guerra e dos direitos civis.
Seu diploma na historicamente negra Universidade Howard, em Washington, foi o início de uma ascensão contínua que a levou de promotora a cumprir dois mandatos como procuradora distrital de San Francisco e, depois, como procuradora-geral da Califórnia em 2010.
No entanto, a auto-descrição de Harris como uma “promotora progressista” foi confiscada por seus críticos, segundo os quais ela defendeu convicções equivocadas e se opôs a certas reformas na Califórnia, como um projeto de lei exigindo que o procurador-geral investigasse tiroteios envolvendo policiais.
“Reiteradas vezes, quando os progressistas a encorajavam a acolher reformas na justiça criminal como procuradora distrital e depois como procuradora-geral, a senhorita Harris se opôs a eles ou ficou em silêncio”, escreveu a professora de direito Lara Bazelon ano passado no The New York Times.
No entanto, o trabalho de Harris foi chave para forjar uma plataforma e um perfil com o qual ela lançou uma bem sucedida campanha ao Senado em 2016, tornando-se a segunda mulher negra a ocupar um assento na Câmara alta americana.
Sua experiência como procuradora-geral também a ajudou a estabelecer um vínculo com Beau, filho de Joe Biden, que ocupou o mesmo cargo pelo estado de Delaware, e morreu de câncer em 2015 aos 46 anos.
“Eu sei o quanto Beau respeitava Kamala e seu trabalho e isso significou muito para mim, para ser honesto, e eu tomei essa decisão”, disse Biden durante sua primeira aparição ao lado de Harris como companheiros de chapa.
Candidata veterana, Harris exala carisma, mas pode rapidamente trocar o sorriso cativante pela persona de procuradora que interroga de forma implacável e faz contestações cortantes.
Em 2017, um vídeo em que ela aparece questionando de forma contundente o então procurador-geral Jeff Sessions durante uma audiência no Capitólio sobre a Rússia viralizou.
“Eu não consigo ser pressionado a ir tão rápido! Isso me deixa nervoso”, exasperou-se Sessions em certo momento.
Harris também enfrentou Biden durante o primeiro debate democrata, repreendendo o ex-senador por sua oposição ao programa de transporte coletivo dos anos 1970 que forçou a integração de escolas segregadas.
“Havia uma menininha na Califórnia que fazia parte da segunda turma a se integrar à sua escola pública e ela viajava de ônibus todos os dias”, disse ela. “E essa menininha era eu”.
O confronto não impediu que Biden escolhesse Harris, que levou sua energia combativa à cautelosa campanha do cabeça-de-chapa.
Durante o único debate com o vice-presidente Mike Pence, Harris levantou a mão enquanto ele tentava interrompê-la.
“Senhor vice-presidente, eu estou falando. Eu estou falando”, disse ela a um Pence de cara feia e silencioso.
Durante o debate, camisetas com sua fala foram postas à venda on-line.