11/09/2024 - 0:26
Kamala Harris classificou Donald Trump como “extremo” e amigo de ditadores, enquanto o republicano a chamou de “marxista” em debate televisionado e repleto de trocas de farpas nesta terça-feira (10), colocando mais lenha na fogueira de uma já explosiva eleição presidencial nos EUA.
Em questões controversas como aborto, raça e o destino da democracia americana, os dois realizaram seu primeiro – e possivelmente único – debate antes da eleição de 5 de novembro, ambos esperando um avanço em uma disputa acirrada.
Trump, que até algumas semanas atrás acreditava estar caminhando para a vitória, reagiu aos ataques de Kamala levantando a voz e recorrendo a insultos coloridos e muitas vezes divagantes, como faz em seus comícios.
Harris, de 59 anos, respondeu olhando com um sorriso irônico, mas logo irritou o adversário ao afirmar que representa um novo começo após a “bagunça” da presidência de Trump, dizendo: “Não vamos voltar atrás.”
O debate da emissora ABC News começou quando a vice-presidente democrata inesperadamente se aproximou do ex-presidente republicano para apertar sua mão, antes de assumirem seus respectivos púlpitos no Centro Nacional da Constituição, na Filadélfia.
Depois disso, as gentilezas terminaram.
Rapidamente, Trump, de 78 anos, chamou a adversária de “marxista” e falsamente afirmou que ela e o presidente Joe Biden permitiram a entrada de “milhões de pessoas de prisões e manicômios” no país.
Kamala lembrou que Trump é um criminoso condenado, o chamou de “extremo” e disse que é “uma tragédia” que ele tenha usado “a questão racial para dividir o povo americano” ao longo de sua carreira.
Um dos momentos mais marcantes foi sobre a recusa inédita de Trump em aceitar a derrota para Biden na eleição de 2020, antes de tentar reverter o resultado. Diante de uma audiência esperada de milhões de eleitores, Trump dobrou a aposta, insistindo que há “muitas provas” de que ele realmente venceu.
Kamala se voltou para Trump e disse que os próprios ex-funcionários de segurança da Casa Branca o chamaram de “uma desgraça”.
“Líderes mundiais estão rindo de Donald Trump”, acrescentou.
Trump “entregaria” a Ucrânia ao presidente russo, Vladimir Putin, “um ditador que o devoraria no almoço”, acusou ela. “Ditadores e autocratas estão torcendo para que você seja presidente novamente.”
Outra troca intensa foi sobre o aborto.
Trump insistiu que, embora tenha pressionado pelo fim do direito federal ao aborto, ele queria que os estados fizessem suas próprias escolhas e políticas.
A vice-presidente disse que ele estava contando “um monte de mentiras” e chamou as políticas do republicano de “insultantes para as mulheres dos Estados Unidos.”
O último debate presidencial, em junho, foi o tiro de misericórdia na campanha de reeleição de Biden, após uma performance catastrófica contra Trump. Kamala assumiu a candidatura em meio aos temores democratas de que Biden era muito velho e frágil para derrotar o republicano, cercado de escândalos.
Kamala ganhou notoriedade em debates anteriores, e enquanto servia como senadora dos EUA, por suas respostas afiadas e perguntas difíceis. Os cinco dias de preparação intensiva aos quais ela se submeteu pareceram dar resultado contra Trump, talvez o orador público mais bem-sucedido da política americana.
Trump há anos desafia as leis da política, parecendo invulnerável a ataques habituais. Ele foi condenado por falsificar registros comerciais para encobrir um caso com uma estrela de filmes adultos, considerado responsável por abuso sexual, e enfrenta julgamento por tentar reverter a eleição de 2020.
Mas Kamala o provocou claramente em um de seus temas favoritos, embora menos sérios – seus famosos comícios. Os participantes, disse ela, estavam saindo cedo dos atos públicos do republicano devido ao “cansaço e tédio.”
Em outro momento em que Trump parecia estar perdendo a calma, ele falou longamente sobre uma teoria da conspiração desmentida de que imigrantes haitianos estariam comendo os animais de estimação das pessoas em Ohio.
“Eles estão comendo os cachorros, as pessoas que chegaram, estão comendo os gatos”, disse o ex-presidente antes de ser corrigido pelo moderador da ABC News, que informou que as autoridades da cidade de Springfield disseram que não há registros de que isso tenha acontecido.
Com apenas 56 dias restantes antes da eleição, o intenso holofote foi uma oportunidade rara para ambos os candidatos ganharem força em uma disputa que as pesquisas mostram estar quase empatada.
E o debate foi uma chance crucial para Kamala se apresentar a mais eleitores, após entrar na disputa presidencial há menos de oito semanas, quando Biden, de 81 anos, desistiu abruptamente.
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