A justiça sueca anunciou nesta terça-feira que arquivará o caso contra Julian Assange, fundador do Wikileaks, acusado por uma mulher de um ataque sexual que teria ocorrido em 2010.

“Anuncio minha decisão de encerrar esta investigação”, anunciou a vice-procuradora-geral Eva-Marie Persson.

“Todos os recursos da investigação foram esgotados sem evidências claras de uma acusação formal”, disse ainda.

Se a parte civil não recorrer dessa decisão, cerca de dez anos de investigação serão encerrados com um fracasso retumbante para a justiça sueca.

“Muito tempo se passou desde os fatos, tendo como consequência o enfraquecimento das provas (…) Todos os atos de investigação se esgotaram sem trazer elementos para uma condenação”, explicou Persson.

A autora da ação, que na época dos eventos tinha cerca de 30 anos, acusou o australiano de ter mantido relações sexuais enquanto ela dormia e sem camisinha, apesar de ter rejeitado qualquer relação desprotegida em várias ocasiões.

Assange, agora com 48 anos, sempre negou essas acusações, que vão prescrever em 17 de outubro de 2020.

O WikiLeaks comemorou a decisão que, segundo seu chefe de redação Kristinn Hrafnsson, vai permitir que seus apoiadores “se concentrem nas ameaças contra as quais Assange denuncia há anos: as ações belicosas dos Estados Unidos”.

Em um SMS enviado à AFP, a advogada da vítima disse que ela “não compartilha a análise da procuradoria” e vai pensar sobre um eventual recurso.

Em 2012, o fundador do site Wikileaks, então investigado na Suécia por este caso, refugiou-se na embaixada do Equador em Londres para evitar extradição para esse país ou para os Estados Unidos, onde é acusado de hackear documentos secretos vazados pelo WikiLeaks.

Após sete anos na representação diplomática, ele foi expulso pela polícia britânica em 11 de abril, com o consentimento de Quito.

Ele foi imediatamente preso e condenado a 50 semanas de prisão em 1o. de maio por violar as condições de sua liberdade provisória.

A investigação sueca foi arquivada uma primeira vez em 2017 por não vislumbrar a saída de Assange da embaixada antes da prescrição dos fatos, mas acabou sendo reaberta com a detenção por Londres.

Julian Assange está sob ameaça de extradição para os Estados Unidos, onde enfrenta até 175 anos de prisão por espionagem.

As autoridades americanas o acusam de colocar em risco algumas de suas fontes quando publicou em 2010 250.000 telegramas diplomáticos e cerca de 500.000 documentos confidenciais sobre as atividades militares dos EUA no Iraque e no Afeganistão.

O relator da ONU sobre a tortura, Nils Melzer, expressou sua preocupação com o estado de saúde de Assange, dizendo que “sua vida está em perigo”, enquanto seu pai, John Shipton, disse este mês que seu filho “pode morrer na prisão”.

Numa audiência em Londres em 21 de outubro, Assange pareceu confuso e gaguejante. A audiência sobre o pedido de extradição será realizada em fevereiro.

Na Suécia, Assange também foi alvo de uma denúncia de agressão sexual contra outra jovem em Estocolmo, mas os fatos foram prescritos em 2015.

Na investigação de estupro, a magistrada reconheceu que, ainda que a vítima seja “credível” e suas declarações “claras, exaustivas e detalhadas”, elas se tornavam menos precisas ao longo do tempo e testemunhas ouvidas ou reavaliadas este verão não trouxeram elementos decisivos.

A advogada da mulher criticou nesta terça-feira as primeiras audiências realizadas pelos investigadores em 2010 com sua cliente e Julian Assange.

“Se os promotores da época tivessem conduzido audiências mais detalhadas, transcrevendo os diálogos [em vez de relatórios de estilo indireto], teríamos relatos de melhor qualidade e poderíamos usá-los novamente hoje”, lamentou.