Estudante do Ensino Médio foi preso quando dirigia o veículo do pai. Ação dos agentes motivou protestos em Massachusetts. Governadora também pediu liberação do jovem.Um juiz federal do estado americano de Massachusetts ordenou nesta quinta-feira (05/06) a libertação de Marcelo Gomes da Silva, um estudante brasileiro de 18 anos que chegou aos Estados Unidos com cinco anos de idade e foi detido pelo Serviço de Imigração (ICE) no último sábado a caminho de um treino de vôlei.
Marcelo, que cursa o Ensino Médio, ficou preso por cinco dias, durante os quais dormiu em chão de concreto, sem acesso a um chuveiro e em um ambiente com homens com o dobro de sua idade, disse à imprensa a advogada do jovem, Robin Nice.
"Isso não deveria ter acontecido. Causaram transtornos à vida de um jovem e de uma comunidade. Esses jovens deveriam estar comemorando sua formatura", acrescentou.
Apesar de estar nos EUA há 13 anos, Marcelo tem status considerado irregular e precisou pagar fiança de 2 mil dólares (R$ 11 mil).
Jovem foi preso ao dirigir o carro do pai
O Departamento de Segurança Interna (DHS) argumentou que as autoridades detiveram o jovem porque descobriram que ele estava "ilegalmente" no país quando dirigia o veículo de seu pai. O departamento afirmou que os agentes procuravam o pai do jovem, que havia sido classificado pelo órgão como um "perigo para a segurança pública" por dirigir com frequência em excesso de velocidade.
"Embora os agentes do ICE não tivessem a intenção de prender Gomes da Silva, ele foi encontrado ilegalmente nos EUA e sujeito a processo de deportação, então os agentes efetuaram a prisão", disse o DHS em nota.
O juiz, porém, reconheceu que Marcelo tem direito ao devido processo legal.
Centenas de amigos, colegas de classe e professores do brasileiro protestaram para exigir a libertação dele nos últimos dias. Estudantes da Milford High organizaram uma manifestação na segunda-feira para protestar contra a detenção. Outros apoiadores lotaram as arquibancadas do ginásio da escola na terça-feira, quando o time de vôlei dedicou uma partida ao colega ausente.
Amani Jack, recém-formada na Milford High, disse que a ausência do colega foi sentida durante a cerimônia de formatura, na qual ele deveria ter tocado na banda. "Marcelo não é um criminoso. Ele é um estudante. Eu realmente quero que ele tente se colocar no nosso lugar, presenciando isso. Tente entender como nos sentimos. Só queremos nos formar", disse.
A governadora de Massachusetts, Maura Healy, do Partido Democrata, divulgou um vídeo no qual pediu ao ICE "fazer a coisa certa e libertar Marcelo". Ela defendeu que o jovem mora em Milford desde os cinco anos de idade, é "um aluno exemplar, um atleta e toca na banda do colégio". "Ele deveria estar na escola com seus amigos e colegas de equipe, não em um centro de detenção", declarou.
Processo deve se estender por meses
Em uma coletiva de imprensa após ser solto, Marcelo contou que muitos dos homens presos com ele não falavam inglês. Ele atuou como tradutor e precisou informar alguns deles que seriam deportados. "Eu disse a cada detento lá: se eu sair e for o único a sair dali, eu perdi", disse. "Quero fazer tudo que puder para ajudá-los. Se tiverem que ser deportados, que seja. Mas da forma correta, nas condições corretas. Porque ninguém ali é tratado com dignidade." Ele contou ainda que, em alguns dias, recebeu apenas bolachas para comer.
Segundo a advogada de Marcelo, ele e a família entraram no país com visto de turista e, posteriormente, o jovem recebeu um visto de estudante, que já expirou.
O juiz de imigração marcou uma audiência preliminar para avaliar o caso, mas o processo pode se estender por meses, segundo a defesa. "Estamos otimistas de que ele terá um futuro nos Estados Unidos", disse a advogada do brasileiro.
gq/cn (efe, lusa, ap)