O Ministério Público italiano ordenou nesta terça-feira o desembarque nas próximas horas dos migrantes a bordo do navio humanitário Open Arms espanhol na ilha siciliana de Lampedusa, anunciaram fontes oficiais.

A decisão foi tomada pelo promotor de Agrigento (Sicília), Luigio Patronaggio, após uma inspeção da polícia judiciária com dois médicos, acrescenta o comunicado.

Parados desde quinta-feira a algumas centenas de metros da costa da ilha italiana, os migrantes foram proibidos de desembarcar ante a negativa de Roma de permiti-lo, embora seis países europeus (França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal Romênia e Espanha) tivessem se comprometido a recebê-los.

Socorridos no Mediterrâneo pela ONG espanhola Open Arms, alguns dos migrantes estão a bordo do navio há 19 dias, igualando o recorde dos 32 migrantes resgatados pelo SeaWatch3 no final de dezembro, antes de atracar em Malta em 9 de janeiro.

Na terça, em um gesto de desespero, 15 migrantes, alguns sem coletes salva-vidas, se jogaram no mar para tentar nadar até Lampedusa. Segundo um porta-voz da ONG espanhola, foram “resgatados” pela guarda costeira italiana e levados para a ilha.

“A situação está fora de controle”, tuitou a Open Arms, cujo barco abrigava 147 migrantes ao chegar perto de Lampedusa e agora mantém pouco mais de 80, depois de que dezenas de menores de idade e doentes foram evacuados.

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Diante da recusa de Roma a deixá-los desembarcar na ilha, o governo espanhol fretou nesta terça-feira um navio militar para Lampedusa para levar os migrantes a Mallorca, cerca de 1.000 km ao oeste da Sicília.

O patrulheiro espanhol “Audaz” enviado por Madri partiu às 18H30 (13h30 em Brasília) da base de Rota (sul), com 62 pessoas a bordo, mostrou a televisão pública.

Contatado pela AFP, o governo espanhol não soube precisar se o navio enviado daria meia volta ou não após o anúncio do Ministério Público italiano.

O procurador italiano também abriu uma investigação “contra desconhecidos” por sequestro de pessoa, uma acusação indireta contra o ministro ultra-direitista do Interior, Matteo Salvini, que afirmou no Facebook que a investigação apontava diretamente contra ele.

“Se alguém acredita que me espanto com a enésima denúncia e petição de processo, engana-se. Seria uma piada ter conseguido convencer a Espanha a enviar um navio [para resgatar os migrantes] e, agora, agir para que desembarquem na Itália e fazer com que se julgue o ministro do Interior, que continua defendendo as fronteiras do país”, publicou no Facebook.

Desse modo, restaria apenas um navio humanitário em frente à costa líbia, de onde costumam partir os migrantes em embarcações precárias rumo a Europa.

O “Ocean Viking”, operado pela SOS Méditerranée e pela Médicos Sem Fronteiras (MSF), continua buscando um porto seguro para seus mais de 350 migrantes a bordo.

O destino dos migrantes do Open Arms acirrou a disputa entre Madri e Matteo Salvini, acusado de querer tirar proveito político deste caso em plena crise política em Roma, onde o governo populista torpedeado pelo chefe ultradireitista da Liga caiu nesta terça-feira.

“A firmeza é a única maneira de impedir que a Itália se torne novamente o campo de refugiados da Europa, como demonstra o barco da ONG espanhola cheia de falsos doentes e falsos menores”, martelou Salvini no Twitter.


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