Os partidos separatistas da Catalunha preparavam nesta quarta-feira (4) os últimos passos para a declaração unilateral de independência, provocando chamados ao diálogo da Comissão Europeia e uma forte queda da Bolsa de Madri.
Na próxima segunda-feira, o presidente regional, Carles Puigdemont, deve comparecer perante o Parlamento catalão para avaliar os resultados do referendo proibido de 1º de outubro. “Em função do desenvolvimento da reunião, poderá ocorrer a declaração de independência”, explicou à AFP uma fonte do governo regional.
A escalada da crise entre Madri e Barcelona gera inquietação no continente e, pela primeira vez, a Eurocâmara debateu a questão. “Chegou o momento de dialogar, de encontrar uma saída para esta situação, de trabalhar dentro da ordem constitucional da Espanha”, disse o vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans.
Mas os eurodeputados dos principais grupos também pediram às autoridades catalãs que evitem uma declaração de independência que, na opinião do porta-voz dos social-democratas Gianni Pittella, “colocaria mais lenha na fogueira”.
As posições entre Barcelona e o governo central de Mariano Rajoy se distanciam cada dia mais depois da votação de domingo na Catalunha, marcada pela violência policial ao tentar impedi-la, e ninguém quer ceder.
Puigdemont reiterou em diferentes ocasiões a necessidade de uma mediação entre ambos os executivos para solucionar uma das piores crises nas últimas décadas na Espanha.
Em um discurso televisionado nesta quarta-feira, o dirigente catalão acusou o governo espanhol de não aceitar “nenhuma das opções de mediação que já estão sobre a mesa”, entre elas uma do presidente regional do País Basco, Íñigo Urkullu.
“Acredito, com toda a sinceridade, que pode se tornar uma grande irresponsabilidade”, assegurou Puigdemont.
“Está absolutamente fora da realidade”, respondeu logo depois a vice-presidente do governo espanhol, Soraya Sáenz de Santamaría, em uma breve aparição.
Em um comunicado posterior, o governo regional reiterou que “se o senhor Puigdemont quer falar, negociar, ou enviar mediadores, sabe perfeitamente o que deve fazer antes: voltar aos trilhos da lei, que nunca deveria ter abandonado”.
– Turbulências econômicas –
A inquietação tomou conta dos investidores e o índice principal da Bolsa de Madri, o Ibex-35, perdeu 2,85% na sessão desta quarta-feira.
Em particular, os dois grandes bancos catalães, CaixaBank e o Banco de Sabadell, sofreram com perdas de 4,96% e 5,69%, enquanto o Santander, primeiro banco espanhol, caiu 3,83%.
A Catalunha, com uma forte indústria exportadora e turística, é a região mais rica da Espanha junto com Madri e contribui com 19% do PIB espanhol.
Um importante lobby econômico regional, o Círculo de Economia, mostrou em um comunicado a “sua preocupação máxima” diante de uma declaração de independência e criticou “a violência inexplicável” de domingo.
Nos próximos dias, o Executivo catalão deve oficializar os resultados do referendo em que, segundo as suas contas, o “sim” ganhou com 90% e teve uma participação de 42,3% dos 5,3 milhões de eleitores.
No entanto, a atuação policial e a falta de organização, que não teve as garantias habituais, não permitem uma análise confiável do resultado.
A sociedade catalã está dividida quase em partes iguais sobre a questão. No domingo, associações unionistas, apoiadas pelo Partido Popular de Rajoy, convocaram uma manifestação no centro de Barcelona com o lema “basta, recuperemos a sensatez!”.
– O rei intervém –
De Madri procuram a maneira de frear a independência. Em um discurso solene na terça-feira, o rei Felipe VI acusou os líderes catalães de “deslealdade” e afirmou que “é responsabilidade dos legítimos poderes do Estado assegurar a ordem constitucional”.
Em discurso televisionado nesta quarta-feira, o presidente regional criticou o discurso real por ignorar “deliberadamente milhões de catalães” separatistas.
Puigdemont respondeu sua mensagem televisionada acusando-o de ignorar “deliberadamente milhões de catalães que não pensam como ele” e de “assumir um papel inadequado que apenas busca aplanar as decisões que o governo espanhol há tempos estuda para liquidar as aspirações de soberania” catalãs.
Entre essas opções está a suspensão da autonomia regional, que o governo de Rajoy nunca descartou, e como pedem cada vez mais vozes na Espanha.
Na Catalunha os ânimos estão exaltados desde a brusca intervenção policial de domingo contra os manifestantes que se concentravam em frente às zonas eleitorais para proteger as urnas.
O incômodo se refletiu na terça-feira com uma greve geral e inúmeras manifestações em toda a região contra a violência policial. Somente em Barcelona, com 1,6 milhão de habitantes, 700.000 pessoas se mobilizaram em diferentes marchas.
Antoni Marti, presidente de Andorra, pequeno país situado entre França e Espanha, e culturalmente muito ligado à Catalunha, pediu um “diálogo político” para sair da crise.