Um ex-agente dos serviços de inteligência do Uruguai foi condenado a 10 anos de prisão por crimes de lesa humanidade cometidos durante a ditadura cívico-militar neste país (1973-1985), indicaram documentos judiciais divulgados nesta quinta-feira (22).

Jorge Carlos Guldenzoph Núñez foi condenado como responsável penal por repetidos crimes de privação de liberdade, abuso de autoridade contra detidos e lesões graves no contexto das denúncias coletivas de tortura na Direção Nacional de Informação e Inteligência (DNII) entre 1974 e 1983, de acordo com a sentença à qual a AFP teve acesso.

“O acusado fazia parte de um plano sistemático e coordenado com o objetivo de perseguir os opositores ao regime de facto”, afirma a juíza penal Isaura Tórtora.

Conhecido como “El Charleta”, Guldenzoph, 70 anos, está preso por esse caso desde julho de 2020. Com isso, a pena imposta será reduzida pelo tempo que ele já passou detido.

Segundo a sentença datada de 15 de fevereiro, na qualidade de colaborador da DNII, Guldenzoph, ex-militante da União da Juventude Comunista (UJC), “participou da detenção, interrogatório e obtenção de confissões sob tortura” de membros dessa organização política.

Cerca de 50 sobreviventes relataram os tormentos sofridos, incluindo “posições forçadas”, “choques elétricos em todo o corpo, especialmente nos genitais”, “suspensões”, “agressões físicas” e “estupros ou penetração com objetos contundentes”.

Pablo Chargoñia, advogado dos denunciantes, comemorou a condenação de Guldenzoph como o “culminar de um longo processo” no qual foi revelado “o horror vivido” durante a ditadura.

“É uma forma necessária de garantir que esses fatos não se repitam”, disse à AFP.

Em 2011, o Parlamento do Uruguai aprovou uma lei que declarou imprescritíveis os crimes de lesa humanidade “cometidos em aplicação do terrorismo de Estado até 1º de março de 1985”, data em que foi reinstaurada a democracia.

Segundo o site Memória Uruguai, que monitora membros da ditadura procurados por violações dos direitos humanos, Guldenzoph “permaneceu impune por anos” e “se tornou empresário privado ligado, entre outros grupos, à Seita Moon”.

Na década de 1980, o Grupo Empresarial de Unificação liderado pelo reverendo coreano Sung Myung Moon, um defensor contra o comunismo, era um poderoso conglomerado econômico-religioso no Uruguai, com negócios bancários, hoteleiros, jornalísticos e pesqueiros.

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