A justiça do Peru fez uma operação na terça-feira à noite no Palácio de Governo em Lima para procurar Yenifer Paredes, cunhada do presidente esquerdista Pedro Castillo, acusada de participação em uma rede corrupção e lavagem de dinheiro.

A operação policial foi realizada a pedido do Ministério Público, que solicitou a “busca” da “zona residencial do palácio do governo”, informou o Tribunal de Justiça em um comunicado.

Depois de quase quatro horas de buscas, os policiais deixaram a residência presidencial sem encontrar Paredes, considerada foragida da justiça.

A operação não tem precedentes na história peruana, onde a justiça nunca havia entrado na sede do Poder Executivo para prender uma pessoa.

Castillo e sua família, incluindo a cunhada de 26 anos, que considera o presidente e sua esposa como seus “pais”, moram na residência presidencial que é parte do Palácio do Governo.

Paredes já havia sido intimada a depor ao Ministério Público e a comparecer a uma comissão de controle do Congresso peruano, em meados de julho.

A Promotoria abriu cinco investigações contra o próprio presidente Castillo por suposta corrupção, outra situação sem precedentes contra um chefe de Estado no exercício do cargo.

Castillo reagiu à situação inusitada com uma mensagem exibida na televisão por volta das 23H00. Ele descreveu o o corrido como uma “invasão ilegal” que faz parte de um suposto plano da mídia para retirá-lo do poder em cumplicidade com a oposição de direita no Congresso.

“Hoje o Palácio do Governo e a Casa Presidencial mais uma vez foram violados com uma invasão ilegal autorizada por um juiz, coincidentemente quando estão solicitando minha inabilitação por cinco anos para tirar do povo peruano seu governo legítimo”, disse Castillo, um professor rural e sindicalista de 52 anos.

“Todos os peruanos são testemunhas da contínua implementação de um plano da mídia que pretende tomar o poder de maneira ilegal e inconstitucional”, acrescentou o presidente.

A medida aconteceu na mesma semana que um relatório do Congresso recomenda inabilitar e processar Castillo política e criminalmente, alegando que ele cometeu traição à pátria ao considerar um possível referendo popular para conceder à Bolívia uma saída para o mar, o que o presidente nega.

Castillo completou em julho um ano no poder e, além do cerco judicial, já enfrentou duas tentativas de destituição no Congresso e tem um índice de desaprovação de 74% da opinião pública, segundo as pesquisas mais recentes.

A operação de terça-feira aconteceu em vários pontos da capital peruana e foram detidos José Nenil Medina, prefeito de uma localidade da região natal de Castillo, e os irmãos empresários Hugo e Angie Espino, todos supostamente vinculados à mesma rede de corrupção.

O tribunal autorizou as detenções preliminares dos envolvidos por 10 dias.

A cunhada de Castillo é a quarta pessoa do entorno presidencial investigada por casos de suposta corrupção.

Os outros processados são um sobrinho que atuava como assessor, seu ex-ministro dos Transportes, ambos foragidos da justiça, e o ex-secretário da presidência.

Este último se entregou na semana passada e negocia um acordo de colaboração com o MP.

A primeira-dama Lilia Paredes também compareceu no mês passado a uma comissão parlamentar de inquérito. Ela se recusou a responder aos legisladores por recomendação do advogado.

Lilia Paredes já havia comparecido ao MP para o mesmo caso e respondeu a todas as perguntas.