Justiça confirma demissão por justa causa de trabalhador que usou camisa de Carlos Brilhante Ustra durante expediente em MG

Justiça confirma demissão por justa causa de trabalhador que usou camisa de Carlos Brilhante Ustra durante expediente em MG

A Primeira Turma do TRT-MG (Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais) reconheceu a demissão por justa causa de um funcionário de hospital de Belo Horizonte que teria se apresentado no local com uma camisa que carregava a imagem do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, acusado de torturas durante a ditadura militar, e a frase “Ustra Vive”. A informação foi divulgada nesta terça-feira, 2.

O caso teria ocorrido em dezembro de 2022, quando a ouvidoria da unidade de saúde recebeu a informação de que o funcionário teria se apresentado no local de trabalho e aos pacientes com uma camiseta que carregava a imagem do militar. Apesar disso, a 27ª Vara do Trabalho de Belo Horizonte invalidou a demissão por justa causa e condenou o empregador a pagar parcelas ao sujeito. Tal decisão foi contrariada pela nova sentença do TRT-MG.

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Na ocasião, o trabalhador alegou que se tratava de uma camiseta antiga e não utilizou para fazer propaganda política, acrescentando que colegas utilizavam imagens de Che Guevara no local. O Código de Ética do empregador proibia o uso de itens que exibissem questões partidárias ou religiosas e por isso, a ação do homem foi considerada como de insubordinação.

A decisão da Primeira Turma do TRT-MG foi unânime em dar razão ao empregador e aceitou a demissão por justa causa. A desembargadora Adriana Goulart de Sena Orsini declarou que o empregado fez apologia à tortura, algo que configura falta grave com base nos artigos 482, alínea “h” e 8º da CLT.

A autoridade também alegou que o ato do funcionário atingiu toda a coletividade e a ordem institucional do Estado Democrático de Direito, além da memória, em um desrespeito às vítimas do regime militar.

Além disso, a desembargadora acrescentou que, apesar da liberdade de expressão ser um limite garantido pelas leis, ela não é absoluta e há limites que devem ser respeitados. “Se é possível elencar um direito constitucional absoluto, este, com certeza, não é direito de não ser torturado, razão pela qual a apologia à tortura deve ser censurada e penalizada”, declarou Adriana Goulart de Sena Orsini.

Quem foi Carlos Alberto Brilhante Ustra

O coronel Carlos Brilhante Ustra foi um militar que foi judicialmente reconhecido como responsável pela prática de tortura durante os anos da ditadura. O homem era comandante do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna).

Sob o comando do coronel Ustra, centenas de pessoas foram submetidas a sessões de tortura em São Paulo, conforme a Comissão Nacional da Verdade. O militar foi apontado como um dos principais agentes da tortura da ditadura militar.