A Justiça de São Paulo condenou nesta segunda-feira, 21, os irmãos Juliano Oliveira Ramos Júnior e Jonathan Fagundes Ramos por matar um casal e filho adolescente no ABC paulista. O crime, que contou com a participação da filha das vítimas, ocorreu em 28 de janeiro de 2020. Júnior e Ramos confessaram participação no crime. As penas somadas chegam a 121 anos de prisão e, inicialmente, serão cumpridas em regime fechado.

As vítimas da tragédia foram Flaviana de Meneses Guimarães, de 40 anos, Romuyuki Veras Gonçalves, de 43, e Juan Victor Meneses Gonçalves, de 15. A residência delas ficava na Rua Caminho dos Vianas, dentro de um condomínio, no bairro Jardim Irene, no município de Santo André, a 6,5 quilômetros do local onde a família foi encontrada carbonizada no porta-malas de um veículo encontrado em uma estrada rural de São Bernardo do Campo.

Conforme a decisão, o réu Júnior praticou três crimes de homicídio triplamente qualificado, três crimes de destruição de cadáver, um crime de roubo majorado pelo concurso de agentes, restrição da liberdade das vítimas e emprego de arma de fogo e, por fim, um crime de associação criminosa.

O réu Ramos praticou “três crimes de homicídio triplamente qualificado, três crimes de destruição de cadáver, um crime de roubo majorado pelo concurso de agentes, restrição da liberdade das vítimas e emprego de arma de fogo e, por fim, um crime de associação criminosa”, consta também na condenação.

A pena de Júnior é de 65 anos, cinco meses e 10 dias de reclusão e pagamento de 37 dias-multa, no patamar mínimo, já Ramos deve cumprir 56 anos, dois meses e 20 dias de prisão e a pagar 35 dias-multa, no patamar mínimo. Ainda de acordo com o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ-SP), cabe recurso contra o julgamento, embora os réus não possam recorrer da decisão em liberdade.

“Os sentenciados, se insatisfeitos com esta decisão, seja por estarem respondendo ao processo custodiados, seja em decorrência da gravidade dos crimes perpetrados, que ensejaram condenação a eles pelo Egrégio Tribunal do Júri, cuja decisão é soberana, para garantia da ordem pública, não poderão recorrer em liberdade, motivo pelo qual deverão ser recomendados nos presídios em que se encontram”, afirma, na sentença, o juiz Lucas Tambor Bueno.

A defesa de ambos não foi localizada. O espaço permanece aberto para manifestação.

Três dos cinco acusados já tinham sido condenados

Anteriormente, em 14 de junho deste ano, o TJ-SP já havia condenado outros três acusados. As penas somadas passaram de 192 anos.

A filha do casal, Anaflávia Martins Meneses Gonçalves, e a então companheira, Carina Ramos de Abreu, foram acusadas de envolvimento no crime. Conforme a decisão Anaflávia, que facilitou a entrada dos comparsas no condomínio onde morava a família e participou dos crimes, foi sentenciada a 61 anos, cinco meses e 23 dias de reclusão.

A companheira dela à época dos fatos, Carina, foi condenada a 74 anos, sete meses e dez dias de reclusão, e o terceiro envolvido, Guilherme Ramos da Silva, amigo de um dos primos de Carina, foi condenado a 56 anos, dois meses e 20 dias de reclusão. Todos em regime inicial fechado, de acordo com o TJ-SP.

Júnior e Ramos são primos de Carina. Todos eles foram acusados anteriormente pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP).

Veja todas as sentenças:

– AnaFlávia Martins Meneses Gonçalves foi sentenciada a 61 anos, cinco meses e 23 dias de reclusão – em 14 de junho de 2023.

– Carina Ramos de Abreu foi condenada a 74 anos, sete meses e dez dias de reclusão – em 14 de junho de 2023.

– Guilherme Ramos da Silva foi condenado a 56 anos, dois meses e 20 dias de reclusão – em14 de junho de 2023.

– Juliano Oliveira Ramos Júnior foi condenado a 65 anos, cinco meses e 10 dias de reclusão – em 21 de agosto de 2023.

– Jonathan Fagundes Ramos foi condenado a cumprir 56 anos, dois meses e 20 dias de prisão – em 21 de agosto de 2023.

Relembre o crime

Às 2h32 do dia 28 de janeiro de 2020, o 6º Batalhão da Polícia Militar da região foi acionado para atender a uma ocorrência. Um incêndio aparentemente em um carro de luxo tinha acabado de ser controlado pelo Corpo de Bombeiros em um recôndito da Estrada do Montanhão, periferia de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Havia cadáveres escondidos no porta-malas. Quando a viatura chegou, os agentes se depararam com a imagem: os corpos, carbonizados, estavam colados uns aos outros.

Levou menos de 24 horas para a polícia confirmar Romuyuki entre os corpos no porta-malas. Também identificaram a mulher dele, Flaviana e o filho caçula Juan Victor.

Imagens de câmeras de segurança mostraram Carina, companheira de Ana Flávia, chegando no condomínio, assim como a presença dos outros envolvidos no crime. Na ocasião, para prender as duas, a polícia alegou ter havido contradições nos depoimentos, como horários de atividades ao longo daquele dia. Posteriormente, os outros três envolvidos também foram presos.

“Carina e Anaflávia mataram as vítimas por motivo torpe, consistente na cobiça de ambas, em ficar com a casa, com os veículos, com o dinheiro que achavam que estava no cofre, e com o dinheiro do seguro de vida. Juliano, Jonathan e Guilherme agiram mediante promessa de recompensa”, disse também na época o MP-SP.

“Todos os cinco empregaram meio cruel para matar as vítimas, pois bateram tanto em suas cabeças, que seus crânios estavam afundados na lateral direita. E se utilizaram de recurso que dificultou a defesa das vítimas, pois além de estarem em superioridade numérica, e de amarrar, amordaçar e entorpecê-las, tinham no grupo duas pessoas da família, Carina e Anaflávia, cuja presença não gerava suspeita”, afirmou ainda no MP-SP quando denunciou os cinco envolvidos no crime.

Também na época, em depoimento, Juliano Júnior afirmou que todos tinham arquitetado o plano juntos e que Anaflávia e Carina participaram ativamente de toda a ação. Isso após receber a informação de que as vítimas haviam recebido R$ 85 mil de uma herança. Ainda segundo o MP-SP, Carina e Anaflavia também suspeitavam que Romuyuki tinha feito um seguro de vida.

Envolvimento de Anaflávia com Carina

Em 2018, Anaflávia interrompeu um casamento para iniciar o namoro com Carina, por meio de quem conheceu os demais envolvidos no crime. As duas passaram a morar juntas nas proximidades da Rua Toledanas, no Jardim Santo André, de onde ela saía todos os dias, de manhã cedinho, para trabalhar em uma loja de perfumes que Romuyuki e Flaviana haviam aberto em um shopping de São Bernardo do Campo.

As vendas no quiosque iam bem e o resultado se refletia em comissões, cada vez mais gordas, para Anaflávia. Também era comum a filha presenciar Flaviana fazer a contabilidade da loja ou pagamentos a outros funcionários ao fim do expediente.