Estavamos a meio dos mês Maio, ainda bem longe do pico do inverno aqui no hemisfério sul, mas a temperatura escorregava para fora dos limites da memória: a noite de São Paulo batia nos 4 graus centígrados.

Já ninguém duvida que o “tempo” está mesmo mudado e nada é mais como antigamente, mas — ao contrário da luz do sol — este frio antártico quando vem, não é igual para todos.

Enquanto os aquecedores, radiadores e convectores, a ar e a óleo, se esgotam na Magalu e nas Casas Bahia, nas lojas e online — as mídias sociais são invadidas por memes de paulistanos muito elegantes esquiando no Ibirapuera. Eles exibem roupas de neve último grito, chiques-no-úrtimo-de-fazer-inveja até aos impreparados patos do parque paulista.

Mas quando a noite chega, logo se revela a verdadeira face de uma terrível realidade. No mesmo local das piadas-moda-inverno, uma multidão de sem-abrigo procura aconchego dentro de museus sem aquecimento — sem sequer isolamento térmico — para não morrer de frio. Piada e realidade mostram afinal a mesma dimensão de um problema muito grave.

Hoje já nenhum político ou economista considera o aquecimento global uma ficção. Os seus custos já se incorporaram aos preços no comércio internacional e nem o mais obtuso terraplanista contesta a ideia de que a primavera está muito mais difícil de encontrar. Mas mesmo assim, a justiça climática ainda não é uma preocupação dos poderosos.

Esta injustiça é a mais grave que até agora o mundo viu. Porque ela prejudica mais os que menos contribuíram para ela; e penaliza menos — ou quase nada — os maiores culpados.

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A injustiça climática é uma injustiça global e anónima. Afeta os mais fracos, mas resulta de uma culpa direta dos mais fortes. Ela não tem responsáveis diretos, nem produz bodes expiatórios.

Só que a injustiça climáticas como aliada o melhor plano de marketing e a melhor estratégia de comunicação de toda a história da humanidade — uma estratégia que consegue responsabilizar os clientes pela falta de qualidade dos serviços prestados. Como se a verdadeira culpa fosse mesmo ser pobre.

Esta injustiça climática é a face mais negra da globalização. Uma lei sem Deus.


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