Os assombrosos vitupérios e achincalhamentos que capearam as agressões do deputado Daniel Silveira (PSL/RJ), contra os ministros do Supremo, o poder judiciário, o Ministério Público e o próprio poder legislativo, retratam a perfeição o grau de esfacelamento e destruição da tolerância, respeito e decoro que pressupõe e determinam as relações, os debates de ideias e a construção dos consensos para aprimoramento ou mudança das escolhas políticas e das políticas públicas, na democracia. Da mesma forma, expõe até a medula, o cenário de conflagração que vem sendo construído e alimentado, a luz do dia, sob as sombras da passividade e mesmo condescendência das instituições, e dos olhares de contemplação e leniência de grande parte da sociedade. Expõe com mais precisão e intensidade nossa opção errática e equivocada pela perigosa complacência, indiferença, e, principalmente, pela impunidade, quando esses e demais ocorrências e fatos interligados tem exigido combate e responsabilização implacável e vigorosa.

O acinte, o ultraje, a afronta, o deboche, a desqualificação, a incitação e a provocação têm sido os meios e os métodos na construção e encaminhamento dos fins e objetivos já definidos, antecipados, justificados e alardeados em alto e bom som para quem quis e quiser ouvir. Em outras palavras, a subversão da ordem e a tomada e manutenção do poder pelo constrangimento ou força bruta.

O bolsonarismo quer promover a subversão da ordem pelo constrangimento e força bruta

Ainda que para isso seja necessário um confronto armado, conforme indicia o esforço, o estímulo e a facilitação de acesso às armas pelos civis, os afagos, acumpliciamentos e agitação das bandeiras de policiais e militares e a obstinação em desacreditar e desqualificar a lisura e transparência do processo eleitoral e da honestidade
das urnas.

Nesse sentido, a verborragia, aparentemente insana, tresloucada e inconsequente do valente deputado, não pode e não deve ser avaliada apenas sobre o seu valor de face, isto é, um desvairado, inofensivo e desprezível soldado e cão de guarda da “revolução”. Deve sim, ser tomada pela sua propriedade real e destacada, numa engrenagem planejada, estruturada e em plena execução, onde ele e os demais, incautos ou não, conformam na correia de transmissão, na parte tacanha vocalizadora dos motivos e fundamentos da sublevação. Para a defesa e sobrevivência da democracia, para manutenção do império da lei e para impedimento da sedição contra a República coloca-se como imposição que se prenda os soldados e, por coerência e isonomia, todos os demais partícipes desses propósitos. Se for disso que trata, ficou no ar e por enquanto sem resposta à pergunta e o desafio lançado a todos nós brasileiros nos arroubos midiáticos das redes sociais do brioso parlamentar: Quem — e quando — vai prender o general da reserva?