A quarta-feira foi marcada por volatilidade nos juros, que alternaram movimentos de alta e baixa ao sabor do noticiário em torno do cenário fiscal e político. No fechamento, tinham viés de queda até o miolo da curva e de alta nas demais. A trajetória indefinida das taxas ao longo do dia e o encerramento próximo aos ajustes anteriores ilustram bem o grau de incerteza que vem marcando os negócios, com o mercado bastante suscetível ao vaivém de declarações e especulações em torno do Renda Cidadã. Com o foco concentrado nos eventos domésticos, a ata do Federal Reserve, destaque da agenda, não chegou a mexer com a curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 3,27%, de 3,355% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 4,825% para 4,77%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa estável em 6,66% e a do DI para janeiro de 2027 terminou em 7,58%, de 7,554%.

A sessão começou com declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, alertando sobre a questão fiscal, o que já trouxe pressão de alta às taxas na abertura, que ainda de manhã acentuou com informações de bastidor trazidas pelo site da Revista Veja, de que o governo estaria estudando prorrogar o pagamento do auxílio-emergencial até junho de 2021. No começo da tarde, o ministro da Economia, Paulo Guedes, desmentiu a informação.

Já perto da última hora da sessão regular, os DIs passaram a cair com informações vindas de Brasília, em torno do compromisso fiscal do governo. Segundo fontes, integrantes do governo garantem estar descartada qualquer solução para o Renda Cidadã que fure o teto de gastos. O próprio presidente Jair Bolsonaro já teria comunicado a equipe que sem solução dentro do teto o programa não sairá. Diante da costura política difícil, uma definição, porém, deverá ocorrer só uma semana após as eleições municipais, segundo a previsão da equipe econômica.

As taxas passaram a cair, mas reduziram o ritmo no fechamento da sessão regular. Profissionais afirmam que para um movimento consistente de alívio nos prêmios é necessário haver ações concretas que vão além de declarações e defesa mais contundente do rigor fiscal que venha da área política e não só da econômica. “(Alívio nos prêmios) sustentável mesmo só se o presidente Bolsonaro defender o fiscal como tem defendido os programas sociais”, disse a gestora de renda fixa da MAG Investimentos, Patricia Pereira.

No Banco Inter, a avaliação é de que embora os prêmios atuais da curva sugiram oportunidades, o risco é elevado, em meio às tentativas de flexibilizar a âncora fiscal e da falta de avanços de reformas. “Mesmo que o governo volte atrás com a proposta da Renda Cidadã, não acreditamos em um fechamento imediato da curva”, afirma Fabiano Ferrari, da área de Estratégias e Pesquisas Econômicas. “Acreditamos que os juros longos poderão ter queda caso a agenda de reformas avance, de fato, revertendo a trajetória da dívida pública. Mas com eleições se aproximando e cenário político conturbado, a volatilidade e os elevados prêmios devem prevalecer”, disse.

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