Os juros futuros tiveram baixa em toda a curva nesta quarta-feira, 23, principalmente na ponta longa, apoiados na queda significativa do dólar, em um ambiente de inflação ancorada e maior confiança na condução de reformas estruturais do País. Apesar de o governo brasileiro ter adiado a entrevista coletiva que concederia em Davos, o mercado viu nesta quarta comunicação mais efetiva da equipe econômica no Fórum Econômico Mundial.

O presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, concederam entrevistas à TV Bloomberg nas quais se comprometeram com medidas de ajuste fiscal. Bolsonaro disse que a proposta da reforma da Previdência que o governo enviará ao Congresso trará cortes “substanciais” nos gastos e falou sobre planos de vender um “grande número de empresas estatais”.

Já Paulo Guedes disse à emissora de TV que pretende zerar o déficit primário do governo neste ano, de R$ 139 bilhões. Ele afirmou que, para isso, a equipe econômica contará com pelo menos US$ 20 bilhões em privatizações e, ainda, devoluções de recursos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e corte de subsídios.

“As declarações do dia foram positivas para o mercado, embora não tenham sido determinantes para a redução dos prêmios nas taxas de juros. O governo mostrou um pouco da cara da nova administração”, disse Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da Coinvalores.

Segundo o profissional, a leitura otimista do mercado se justifica na ideia de que, com o avanço das reformas e medidas de ajuste fiscal, aumentam as chances de o Banco Central fazer uso por mais tempo dos juros estimulativos. “Não se sabe se manter juros estimulativos significará cortar a taxa Selic ou conservá-la inalterada por mais tempo, mas de um jeito ou de outro essa expectativa reduz os prêmios dos DIs”, disse.

Ao final dos negócios na B3 na etapa estendida, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) com vencimento em janeiro de 2020 fechou em 6,46%, ante 6,47% do ajuste de terça. O DI para janeiro de 2021 projetou 7,20%, de 7,23%. O vencimento de janeiro de 2023 terminou o dia com taxa de 8,29%, ante 8,35% da véspera. Na ponta mais longa, o DI para janeiro de 2025 projetou 8,79%, de 8,86%.

Na agenda de indicadores econômicos, o destaque do dia ficou por conta do IPCA-15 de janeiro. A taxa ficou em 0,30% este mês (ante deflação de 0,16% em dezembro) e ficou abaixo da mediana das estimativas dos analistas consultados pelo Projeções Broadcast, de 0,33%. O resultado é o mais baixo para o mês de janeiro desde a implantação do Plano Real.