Os juros fecharam a segunda-feira, 19, com queda firme, refletindo o alívio no risco fiscal após declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do ministro da Economia, Paulo Guedes, nos últimos dias reforçando o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal. A sinalização de ambos dá um respiro ao mercado, mas não muda a percepção de que tendência é de pressão sobre a curva enquanto não houver decisões concretas que protejam as contas públicas de ataques ao teto de gastos. No exterior, o dia foi positivo para ativos emergentes, renovadas as expectativas de acordo sobre o pacote fiscal americano no curto prazo com a fala da presidente da Câmara dos EUA, Nanci Pelosi, no fim de semana. No fim da tarde, porém, o apetite ao risco arrefeceu com relatos de dificuldades no diálogos entre democratas e republicanos.

O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 terminou com taxa de 4,66%, de 4,825% no ajuste de sexta-feira. O mais negociado, DI para janeiro de 2022, fechou com taxa de 3,29%, de 3,385% no ajuste anterior. A do DI para janeiro de 2025 caiu de 6,645% para 6,48% e a do DI para janeiro de 2027, de 7,574% para 7,40%.

Nas mínimas, as taxas de médio e longo prazos chegaram a ceder mais de 20 pontos-base entre o miolo e a ponta longa, mas na última hora de negócios, o ritmo desacelerou a partir do exterior. O mercado amanheceu confiante sobre o pacote nos EUA após Pelosi ter dito ontem que um acordo teria de ser fechado em 48 horas para que pudesse ser assinado até a eleição presidencial de 3 de novembro. No fim do dia, no entanto, relatos de que permanecem as discordâncias na “linguagem” entre democratas e republicanos nos EUA esfriaram o otimismo em todos os ativos.

No mercado de juros, o impacto foi sutil, uma vez que o olhar do investidor está mais voltado aos fatos internos. “Maia e Guedes dando apoio ao teto e à ideia de não prorrogar o auxílio emergencial ajudam tanto o câmbio quanto os juros”, disse o estrategista de renda fixa do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

Às pressões vindas de dentro do Congresso para a postergação da ajuda para 2021, Maia afirmou que “não existe” a possibilidade de prorrogação por mais três meses do estado de calamidade, decretado durante a pandemia. Segundo ele, isso significaria a prorrogação, também por mais três meses, da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento de Guerra, o que “seria uma sinalização muito ruim quanto à âncora fiscal”. Na mesma linha, na sexta à noite, Guedes havia descartado tal ideia. Hoje, o ministro reiterou que irá lutar pelo teto enquanto for necessário. Segundo o ministro, não há desculpa para a criação de despesas permanentes. “As medidas para conter a pandemia nunca foram desculpa para continuar gastando”, defendeu.

“Ao se manter firme, Guedes passa ao mercado a impressão de que o presidente Bolsonaro endossa uma política fiscal mais responsável. Já Maia, sendo fiador dessa postura, deve dificultar que se aprovem no Congresso matérias que afrouxem a disciplina fiscal (como a prorrogação do auxílio)”, disse Rostagno.