Os juros futuros terminaram o dia em alta firme, com aumento dos ruídos políticos e do pessimismo com o cenário fiscal na etapa vespertina, num dia ruim no exterior. Apesar da polêmica em torno do Renda Cidadã permanecer como pano de fundo negativo, o mercado vinha relativamente sob controle até o começo da tarde, quando então as taxas passaram a subir com força em reação a declarações do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, dadas durante uma teleconferência com agentes do mercado. Nela, segundo fontes, Marinho teria sinalizado que o programa será lançado de qualquer forma, o que, na leitura dos participantes, reforçou a ideia de que o teto de gastos pode estar em risco. Ainda segundo os relatos, o ministro teria feito críticas à equipe econômica, especialmente, ao ministro Paulo Guedes.

Como nos últimos dias, as taxas que mais subiram hoje foram as do miolo da curva, mais sensível ao forward guidance do Banco Central e que também agora está ameaçado pela deterioração do quadro fiscal, percepção que ganhou força após a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ontem durante teleconferência do JPMorgan.

Nesse contexto, o mercado ampliou as expectativas de alta da Selic nos próximos meses, que agora passaram a ser majoritárias. Segundo o Haitong Banco de Investimentos, a curva projeta 60 pontos-base de alta para a taxa básica até o fim do ano, com 60% de probabilidade de aumento de 0,25 ponto porcentual já em outubro e 40% de chance de manutenção em 2%. Para o Copom de dezembro, a indicação é de 100% de chance de aperto de 0,25 ponto. Para o fim de 2021, a precificação mostra Selic em 5,5%.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou com taxa de 3,40%, de 3,124% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,615% para 4,85%, com máxima de 4,95%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 6,71%, de 6,534% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 avançou de 7,504% para 7,60%.

Na teleconferência organizada pela Ativa Investimentos, Marinho teria dito que o Renda Cidadã sairá por bem ou por mal e, ainda, que foi Guedes quem propôs usar precatórios e parte dos recursos do Fundeb para bancar o programa. Na última quarta-feira, o ministro da Economia havia dito que o uso dos precatórios para o Renda Cidadã não era uma fonte saudável de financiamento. “Não haverá proposta do governo. Seria do Ministério da Economia, mas depois do que foi feito, você acha que o Bittar senador Márcio Bittar (MDB-AC), relator da PEC emergencial, vai confiar na Economia?”, afirmou Marinho, na call segundo participantes.

As declarações de Marinho circularam nas mesas de operação e em conversas de economistas, para os quais o episódio alimenta a ideia de conflito dentro do governo. No fim da tarde, Marinho afirmou, em nota, que a reunião teve o objetivo de reforçar o compromisso do governo com a austeridade nos gastos e que não houve “desqualificações” a agentes públicos nem às propostas já apresentadas. Não negou, porém, ter dito aos participantes que o Renda Cidadã será criado “da melhor ou pior maneira”.

Paulo Guedes também se manifestou. “Não acredito que Marinho falou mal de mim. Se falou mal, isso mostra que ele, em primeiro lugar, é despreparado, além de desleal e fura teto”, disse.