Os juros futuros fecharam em alta nesta quinta-feira, 29, de agenda local pesada e mau humor nos mercados internacionais. Profissionais da área de renda fixa destacaram que, a exemplo dos últimos dias, a influência do cenário externo, onde o dólar e os juros dos Treasuries estão avançando, foi decisiva para a trajetória ascendente das taxas. Ao longo da sessão, contudo, questões do quadro fiscal doméstico também trouxeram algum desconforto.

Ao final da sessão, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2018 (230.615 contratos) fechou em 8,985%, de 8,955% no ajuste de ontem. A taxa do DI janeiro de 2019 (307.680 contatos) subiu de 8,93% para 8,99%. Nos longos, o DI janeiro de 2021 (273.945 contratos) fechou em 10,18%, de 10,13%, e a do DI janeiro de 2023 (62.000 contratos) avançou de 10,62% para 10,64%.

O estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, afirmou que o exterior hoje foi o principal “driver” para o comportamento das taxas, que também corrigiram um pouco a queda de ontem. “A rigor, não fosse lá fora, talvez o mercado tivesse motivo para recuar com a CCJ”, afirmou. Dados positivos da economia norte-americana e da zona do euro, anunciados hoje, corroboraram as recentes declarações classificadas de “hawkish” de dirigentes do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA)e Banco Central Europeu (BCE).

Logo após a abertura, as taxas dos DIs recuaram em reação à aprovação da reforma trabalhista ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, por 16 votos a 9, placar que, para os players, mostrou que o governo conseguiu se rearticular após a derrota na Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Ainda, repercutiu positivamente a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), com a confirmação da redução da meta de inflação para 4,25% em 2019 e, sobretudo, a decisão de estabelecer em 4% a meta de 2020. A nova deflação do IGP-M, de 0,67% em junho, maior do que apontava a mediana de -0,65% registrada pela pesquisa Projeções Broadcast, também contribuiu.

Porém, ainda pela manhã, a queda perdeu força e as taxas passaram a oscilar entre a estabilidade e um viés de alta depois que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reafirmou que “se preciso, vamos aumentar impostos”. Nos últimos dias, vinham crescendo as expectativas em relação a uma elevação de tributos sobre combustíveis de forma a ajudar no cumprimento da meta fiscal deste ano. No começo da tarde, as taxas começaram a avançar em meio ao leilão do Tesouro e à informação de que a votação do requerimento de urgência para a proposta da reforma trabalhista no plenário foi adiada para terça-feira.

Perto das 14h, o dólar renovou máximas juntamente com os juros futuros, após o resultado primário do governo central pior do que o esperado. Houve déficit de R$ 29,371 bilhões em maio, o pior desempenho para o mês desde 1997, quando teve início a séria histórica. A estimativa mais pessimista entre os analistas consultados pelo Projeções Broadcast era de déficit de R$ 27,7 bilhões. Posteriormente, as taxas se afastaram das máximas com a explicação do Tesouro de que o resultado foi afetado por um fator pontual: a antecipação do pagamento de R$ 10 bilhões em precatórios e sentenças judiciais, que normalmente ocorre entre novembro e dezembro.