A curva de juros preservou durante a tarde o desenho com o qual tinha encerrado a manhã, com a ponta curta em queda moderada e um viés de alta nos vencimentos longos. As taxas curtas e intermediárias continuaram reverberando o aumento das apostas na queda da Selic a partir de julho, após aprovada a reforma da Previdência na comissão especial da Câmara ontem. As demais encerraram o dia entre a estabilidade e viés de alta, influenciadas pelo fortalecimento do dólar e impulso no rendimento dos Treasuries, por sua vez, amparados na leitura do relatório de emprego norte-americano.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2020, que capta as apostas para a Selic em 2019, encerrou em 5,835%, de 5,871% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2021 caiu de 5,718% para 5,670%. A taxa do DI para janeiro de 2023 ficou estável em 6,48% e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 6,980% para 7,03%.

Segundo a Quantitas Asset, os contratos futuros fecharam o dia precificando 25,2 pontos-base de queda para Selic na reunião do Copom deste mês, ante 22 pontos ontem. Com isso, enquanto as apostas de manutenção da taxa nos atuais 6,50% foram apagadas, a curva já mostra chance marginal (1%) de corte de 0,50 ponto na Selic e 99% de possibilidade de redução de 0,25 ponto.

“Está muito ‘na cara’ que a Selic vai para baixo, e, desta vez, de forma racional. Dado que o cronograma da reforma, ainda que com um pouco de atraso, está sendo relativamente cumprido e que as expectativas de inflação estão abaixo da meta, já temos as condições para cortar”, afirmou o estrategista de renda fixa da Coinvalores, Paulo Nepomuceno.

A aprovação da reforma na comissão especial aumenta as chances de o Copom abrir o ciclo de afrouxamento da Selic já na reunião deste mês, especialmente se concretizado o desejo do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de aprovar a proposta em plenário na próxima semana. “Vamos começar a trabalhar amanhã para aprovar a reforma na semana que vem”, disse hoje, em entrevista ao programa Pânico, da rádio Jovem Pan. Para o texto passar na Câmara, são necessários 380 votos, em dois turnos de votação.

Em documentos recentes, o Copom afirmou que “o avanço concreto” nas reformas é fundamental para consolidação do cenário benigno para a inflação. Em entrevista exclusiva ao Broadcast publicada nesta sexta-feira, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, avaliou a aprovação da reforma na comissão especial como “a primeira vitória”. Ele procurou, no entanto, não vincular a reforma a qualquer decisão sobre a Selic. “Não há relação mecânica entre reformas e juros”, disse Campos Neto, para depois acrescentar: “Nosso cenário é de aprovação da reforma da Previdência”.