ALÍVIO Cientistas da Nasa celebram recebimento do sinal que confirmou entrada da sonda Juno na órbita de Júpiter
ALÍVIO Cientistas da Nasa celebram recebimento do sinal que confirmou entrada da sonda Juno na órbita de Júpiter (Crédito:NASA/Bill Ingalls)

Na mitologia Greco-Romana, o deus Júpiter, o mais poderoso dos seres, rodeia-se de uma densa camada de nuvens para esconder sua maldade dos homens e dos outros deuses. Juno, sua irmã e esposa, é a única que consegue penetrar esse véu para revelar a verdadeira índole do líder de todos os criadores e criaturas. Não é difícil entender, portanto, os motivos que levaram a Nasa, a agência espacial americana, a batizar de Juno a sonda que vai estudar o planeta Júpiter. Após quase cinco anos de jornada, a nave americana chegou na semana passada à orbita do gigante gasoso para analisar a composição, a gravidade, o campo magnético e até o clima do nosso maior “vizinho”. Ao mesmo tempo, Juno utilizará suas câmeras para registrar imagens mais próximas e com melhor qualidade do que quaisquer outras já feitas. Para isso, a agência americana contará com a ajuda providencial de internautas, que poderão escolher pontos específicos para serem fotografados.

A esperança dos pesquisadores da Nasa é que Juno seja capaz de revelar como Júpiter se formou, como evoluiu ao longo dos 4,6 bilhões de anos do Sistema Solar e como influenciou os demais planetas ao redor. Segundo os astrônomos, Júpiter foi um dos primeiros planetas da região a “aparecer”. Sua atmosfera é composta basicamente de hidrogênio e hélio, mas os cientistas também esperam detectar traços de água. Isso ajudará a determinar quanto oxigênio existia na região em que o gigante se formou. “A quantidade de água na atmosfera de Júpiter será um grande indicador sobre suas origens”, afirma Candy Hansen, uma das cientistas da missão. Por ter “nascido” na mesma época em que o Sol, Júpiter deveria ter elementos similares aos da estrela em sua composição. Apesar disso, análises anteriores mostraram a presença de componentes mais pesados, como carbono e nitrogênio. Isso fez surgir a teoria de que o gigante pode ter surgido em outro ponto do espaço e, posteriormente, migrado para mais perto do Sol. Ao entender esse processo, a ciência também poderá compreender melhor como a Terra se inse no contexto de formação do Sistema Solar.

INÍCIO Decolagem do foguete Atlas V que levou Juno ao espaço, em 2011
INÍCIO Decolagem do foguete Atlas V que levou Juno ao espaço, em 2011 (Crédito:NASA/Bill Ingalls)

Apesar de ser um gigante gasoso, acredita-se que Júpiter tenha um núcleo feito de rocha e gelo. A Nasa espera que Juno finalmente consiga comprovar essa teoria. Além disso, os instrumentos a bordo da sonda analisarão a imensa força gravitacional do planeta para determinar seus efeitos sobre os “vizinhos”. Júpiter é considerado um escudo natural da Terra contra impactos de asteróides e cometas, já que sua enorme gravidade atrai e desvia esses objetos, protegendo nosso planeta contra potenciais desastres cósmicos. Em 1994, os astrônomos puderam observar ao vivo esse escudo em ação. Naquele ano, o cometa Shoemaker-Levy 9 atingiu diretamente o gigante gasoso, enquanto telescópios acoplados a câmeras registravam o fenômeno. Ao longo dos próximos 20 meses, Juno também analisará o fortíssimo campo magnético de Júpiter – até 20 mil vezes mais intenso do que o da Terra – e estudará as tempestades e auroras nos polos do planeta.

A sonda da Nasa orbita cerca de 4.500 km acima do topo da camada de nuvens de Júpiter, mais perto do que qualquer outro objeto já feito pelo homem. Isso só é possível porque os computadores estão protegidos da radiação por um cofre de titânio de 200 kg. Antes disso, a sonda Galileo, também fabricada pela Nasa, havia sido a única nave a orbitar o gigante, em 1995. Até fevereiro de 2018, Juno dará 30 voltas no planeta. “Oficialmente, a coleta de dados começa em outubro de 2016, mas encontramos uma maneira de iniciar os estudos preliminares antes disso”, afirma Scott Bolton, um dos líderes do projeto. A estimativa é que as primeiras imagens cheguem à Terra em agosto. No fim da missão, a nave será acelerada até atingir Júpiter em cheio. O destino, aparentemente trágico, tem um motivo lógico: evitar que a sonda caia em Europa, um dos satélites de Júpiter. Assim, os pesquisadores diminuem as chances de contaminar esse potencial abrigo de vida extraterrestre.

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Arte: Rica Ramos