A junta militar de Mianmar anunciou, nesta quarta-feira (4), que vai libertar 7.000 prisioneiros por ocasião do Dia da Independência, após um desfile com ares de demonstração de força, dias depois de aumentar a sentença da líder Aung San Suu Kyi para 33 anos de prisão.
Tanques, lançadores de mísseis e veículos blindados desfilaram pela capital Naypyidaw, segundo jornalistas da AFP, como parte das comemorações do 75º aniversário da independência de Mianmar do Reino Unido.
Funcionários públicos e estudantes acompanharam as comemorações com uma banda militar, enquanto 750 pombas da “paz” foram soltas para comemorar a data, de acordo com a imprensa estatal.
A junta anunciou posteriormente a libertação de 7.012 prisioneiros para comemorar o aniversário, embora não tenha especificado se os indultos incluirão pessoas presas por sua oposição ao golpe de Estado de fevereiro de 2021.
Seu porta-voz, Zaw Min Tun, não respondeu à AFP se as medidas incluíam a transferência da líder civil Aung San Suu Kyi para um regime de prisão domiciliar.
Vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1991, ela está detida desde o golpe que encerrou um breve período democrático neste turbulento país do Sudeste Asiático.
A junta, que recentemente completou uma série de julgamentos a portas fechadas contra Suu Kyi, está se preparando para realizar eleições este ano, embora os Estados Unidos tenham dito que seriam uma “farsa”.
O chefe da Junta, Min Aung Hlaing, foi recebido com 21 saudações ao chegar ao desfile, onde acusou países não identificados de “intervir nos assuntos internos de Mianmar” desde o golpe.
Disse ainda que os militares se reuniram com partidos políticos para discutir o “sistema eleitoral de representação proporcional”, sem fornecer outros detalhes.
Segundo analistas, a junta poderia acabar com o sistema de eleição por maioria que permitiu que a Liga Nacional pela Democracia, de Suu Kyi, vencesse amplamente as votações de 2015 e 2020.
O presidente russo, Vladimir Putin, enviou suas saudações e antecipou “maior desenvolvimento” das relações bilaterais, de acordo com o jornal estatal Global New Light de Mianmar.
A Rússia é aliada e fornecedora de armas da junta birmanesa, que defendeu a invasão por Moscou da Ucrânia.
– Protesto em casa –
Grande parte de Mianmar está mergulhada em combates entre as tropas da junta e os rebeldes da oposição desde que os militares tomaram o poder há quase dois anos.
Mianmar declarou sua independência do domínio colonial britânico em 4 de janeiro de 1948, após uma luta liderada pelo general Aung San, pai de Suu Kyi.
O Dia da Independência costumava ser comemorado com jogos de rua, marchas e reuniões em espaços públicos.
Mas depois do golpe, as comemorações públicas tiveram pouca participação, porque as pessoas ficam em casa para protestar contra a junta.
Correspondentes da AFP relataram um aumento da segurança em Yangon, o centro econômico do país e atingido por uma série de atentados nos últimos meses.
A Embaixada dos EUA alertou nesta quarta-feira contra um “aumento potencial de ataques, disparos direcionados e explosões”.
Às vésperas do 75º aniversário da independência, a junta entregou centenas de homenagens e condecorações a seus apoiadores, principalmente Ashin Wirathu, um monge budista extremista conhecido como o “Budista Bin Laden” por alimentar tensões religiosas em Mianmar.