09/11/2024 - 12:00
Uma palavra para descrever a trajetória de Junior Lima, 40, nos palcos: reinvenção. O filho de Xororó e Noely construiu os títulos de cantor, multi-instrumentista, dançarino e performer em 35 anos de carreira musical. E neste sábado, 9, o artista estreia a “Solo Tour” com show em Campinas, interior de São Paulo, sua cidade natal.
Ao olhar para trás, Junior sente orgulho da estrada que percorreu até aqui, desde a época em que fazia dupla com sua irmã, Sandy, ainda criança. Apesar disso, ele admite que o ônus do sucesso pesou em alguns momentos. “Passei por umas paradas difíceis de cabeça”, declara em entrevista exclusiva ao site IstoÉ Gente.
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Satisfeito em levar para o público um trabalho totalmente autoral, depois de décadas desenvolvendo projetos em dupla, com banda ou com produtores, o cantor se permite desta vez fazer tudo do seu jeito. Agora, o músico aposta em uma turnê em que o público explore consigo as profundezas de sua alma, revelando facetas que poucos conhecem.
E ele atribui à maturidade essa nova postura profissional. “[Escolhi fazer] O que ia me fazer feliz, porque não é uma parada fácil a vida do artista. A vida que eu acabei escolhendo muito cedo, mas que continuo escolhendo”, afirma.
“Tem o bônus, mas tem o ônus e as pessoas não têm noção, não conseguem dimensionar. Viver isso desde criança… tem que ser uma escolha consciente, porque tem uma série de questões psicológicas sérias envolvidas nisso”, reflete ele, ressaltando que se reinventar aos 40 não é para todo mundo.
“Eu passei por umas paradas difíceis, momentos bem complicados de cabeça, então acho que tem que ter muita coragem para fazer o que eu estou fazendo, encarar o mercado como é agora. O jogo não é tão limpo, a gente sabe como funciona. Não é só arte pela arte e aí eu vou mexer em muitos vespeiros aqui [com a mão no peito] dentro.”
Os obstáculos que Junior cita como “paradas de cabeça” são as crises de pânico que sofreu pouco antes de completar 30 anos de idade.
“Foi um período em que eu saí muito do eixo. E para conseguir me reencontrar comecei a não saber mais muito quem eu era, o quanto eu estava vivendo a partir dos outros… ixi, papo de terapia [risos], mas houve uma fase ali perto dos 30”, relembra o músico, destacando que a importância da música em sua vida é muito maior do que qualquer outra coisa.
“É uma questão de embarcar no projeto e encarar tudo que vem no pacote. Porque, de verdade, eu não tenho a necessidade do holofote, da fama”, ressalta. “Lógico que tem um lado gostoso, é muito bom ser bem tratado nos lugares, mas essa é uma camada tão rasa de tudo o que é envolvido”, completa.
Ao ser questionado sobre valer à pena mexer nos vespeiros que estavam guardados em seu peito, o cantor dispara, sem nem pensar duas vezes:
“Existe uma necessidade de expressão. Se eu não estiver me realizando como artista e produzindo uma parada que eu tenha orgulho, eu fico ‘deprê’. Minha cabeça não me permite cair nesse lugar, eu preciso botar para fora”.
Junior frisa, inclusive, que está em seu melhor momento e fez uma comparação ao período da turnê de shows de reencontro com Sandy nos palcos, em 2019, que reuniu milhares de fãs saudosos pela dupla em todo o Brasil.
“Está valendo à pena, porque estou muito realizado e me vendo vivo. Eu estou me sentindo com mais saúde, com mais disposição do que há cinco, seis anos, do que quando eu fiz a turnê com a minha irmã. Eu me sinto mais jovem, mais pulsante”, diz.
Exposição
O cantor concorda que espalha uma imagem positiva por onde passa desde pequeno. Entretanto, descarta qualquer estereótipo de perfeição que lhe é atribuído ao longo de sua jornada.
Embora não pareça, Junior tem seus momentos de destempero. Contudo, elaborou uma ferramenta de controle para não ter comportamentos explosivos. Segundo ele, a tática foi elaborada ao longo da vida e se deve à exposição que viveu desde muito pequeno.
“Eu sou absolutamente humano, eu tenho super momentos de sair do sério e perder a paciência, mas eu tento considerar muito o outro, foi uma parada muito presente na minha criação. Acho que a minha mãe tinha muito medo de a gente pirar com a fama e com tudo que a gente viveu, e ela ficava me trazendo muito para o chão. E a maneira de ela fazer isso sempre foi me fazendo perceber muito o outro, então eu sou bastante empático”, afirma.
“Mas quando alguma coisa me desestabiliza no trabalho, ou algum imprevisto eu [respiro fundo] e não explodo na frente de todo mundo, sempre fui muito preocupado com a maneira de colocar as coisas para não passar do ponto”, completa.
“Aos poucos fui aprendendo a controlar as emoções e acho que também essa coisa de estar sempre muito exposto [colaborou para isso]. Então, é aprender a lidar, não negar uma raiva necessária, até como defesa, mas não descontrolar, porque eu não lidei com isso quando criança, então, como é que eu me coloco sem passar do ponto? Acho que a maturidade ajuda”, explica.
Paternidade
Casado com Monica Benini e pai de Otto, 7 anos, e Lara, 3, Junior Lima encontra em sua família um refúgio para a felicidade.
“Me sentir vivo desse jeito me deixa muito feliz, viver a minha música, e meus filhos, minha família, minha casa. Criança é luz na vida”, elogia ele, acrescentando que a rotina pré-turnê de shows o impede de estar mais próximo. No entanto, Junior tenta se fazer presente de qualquer forma na rotina dos herdeiros.
“Hoje em dia eu me alimento muito do meu trabalho. E quando eu começo a precisar de uma válvula de escape, meus filhos são a maior válvula. Tenho conseguido, dentro do possível agora, fazer o mínimo. Eu dou banho, coloco para dormir, eu posso estar virado do avesso, eu vou cuidar, vou ficar junto, vou fazer a minha parte”, conta.
“Mas daqui a pouco passa esse período maluco e eu volto a me dividir bem. Tenho o privilégio de trabalhar muito de casa, de ter um certo domínio da minha agenda, ser o meu próprio chefe, me ajeito para conseguir estar presente para eles e tudo fica bem”, pondera.