Coordenador da seleção brasileira entre 2019 e 2022, Juninho Paulista tem convicção de que, durante o ciclo da Copa do Mundo do Catar, foi feito o possível para o Brasil voltar a ser campeão mundial. O ex-meio-campista não concorda com boa parte das críticas feitas a alguns protagonistas da campanhas, como Neymar e o técnico Tite. “Todas mentirosas”, disse ao ser questionado, em entrevista publicada nesta terça-feira pelo GE, sobre as especulações de que o atacante “manda na seleção” e de que o treinador era “muito protetor”.

Juninho falou sobre possíveis regalias que Neymar teria no ambiente da seleção e defendeu como natural que um jogador com status de estrela tenha direito a pequenos privilégios “que não prejudiquem” o grupo. Citou, inclusive, exemplos como Ronaldo Fenômeno, Messi e Cristiano Ronaldo para justificar tal posicionamento.

“O Neymar olha o Messi na seleção argentina com regalias. Ele olha o Cristiano Ronaldo na seleção portuguesa com algumas regalias. E aí ele vem para a seleção brasileira e é humanamente normal, porque está no nível desses jogadores, que tente algum tipo de regalia. Por ser tecnicamente o melhor jogador do Brasil. Só que aí cabe a nós mostrarmos a ele que algumas situações que não prejudique, ok. Outras, não. Na maioria dos casos, ele vai fazer o que fazem todos os jogadores. Foi assim que o Felipão fez com o Ronaldo em 2002. Era uma referência técnica também para o grupo”, afirmou.

O ex-dirigente da CBF também negou que Neymar tenha sido agraciado com o benefício de acesso exclusivo de seus amigos e familiares ao hotel no qual a seleção estava hospedada. “Não, isso é uma das coisas que não podia. Cara, você está 30 dias ali focado naquilo que você tem que fazer. Houve a permissão de familiares no momento certo, não em todo momento. Foi uma coisa que eles observaram em 2018 e que não deu tão certo e a gente mudou. Mas em termos disciplinares foi zero, Neymar, como qualquer outro jogador, foi zero de problema disciplinar. Isso é muito mérito nosso também. A geração é diferente da anterior, é diferente da minha, não é ‘não porque não’. Tem que ter embasamento”, disse.

TITE PRONTO PARA A EUROPA

Outro nome bastante citado por Juninho durante a entrevista foi o de Tite. Ele acredita que o treinador não deve ser julgado apenas pela eliminação para a Croácia nas quartas de final da Copa. Além disso, vê o colega pronto para trabalhar em grandes clubes da Europa, objetivo de Tite no momento.

“O resultado prejudicou muito. Porque, mesmo lá fora, ainda há pessoas que só olham o resultado. Porque às vezes não conhecem muito esse processo. Vão contratar um treinador e só olham os resultados. Por isso que eu falo da importância do agente. O Tite precisa ser visto dessa maneira que ele é. Ele tem capacidade de comandar qualquer clube na Europa, do tamanho de um Manchester City, de um Real Madrid. Ele tem essa condição”, afirmou.

A postura do treinador ao fim da disputa dos pênaltis com a Croácia, após empate por 1 a 1 na prorrogação, foi outro assunto abordado pelo ex-meia. “Nos pênaltis, ele estava com todo mundo e tinham vários jogadores ali. Quando terminou, eu já parti para os jogadores que estavam em campo. E ele ficou com esse pessoal todo. Foi uma tristeza muito grande para ele. Acho que foi um dos piores momentos da vida dele, da carreira”, disse.

“Teve a Bélgica, mas (antes da Copa de 2022) teve um ciclo inteiro, a confiança era muito grande nesse período. Tudo caiu em cima da cabeça dele. Sempre cai em cima da cabeça do treinador primeiro essa eliminação. Mesmo assim ele ficou ainda com o pessoal ali próximo, não teve essa atitude de entrar em campo, mas ele é muito introspectivo. Ele foi sofrer sozinho, foi chorar sozinho. Estava lá no vestiário e até ele ficou espantado quando, no outro dia, tiveram essas notícias. Ele até perguntou depois: “Pô, mas fiz alguma coisa errada?” . Eu falei: ‘Não, de maneira nenhuma’, completou.

Juninho ainda deu sua opinião sobre a convocação de Daniel Alves, hoje preso por agressão sexual na Espanha. Na época, chamar o lateral foi um ato bastante criticado, pois ele já estava com 39 anos e treinava com o time B do Barcelona após passagem pelo futebol mexicano.

“Foi realmente uma discussão grande em torno dele. Na nossa avaliação, ele merecia a convocação. Eu acho que também um pouco por falta de concorrência nesse nível. Acho que também pelo que ele representava, para os atletas e para a seleção, pela resposta que deu quando estava mal. Então, a minha opinião final era de que deveríamos convocar”, disse. “Quando entrou, ele correspondeu. Na minha opinião, na Copa, não tivemos nenhum ponto fraco por ele estar em campo”, concluiu.