No início de junho de 2013, a cidade de São Paulo foi palco das primeiras manifestações do período. Nessa ocasião, o Movimento Passe Livre convocou e liderou passeatas contrárias ao reajuste de tarifas de transporte público no valor de R$ 0,20. Nos dias que se seguiram, os movimentos se tornaram o principal assunto na mídia tradicional, seja pelo impacto gerado com a presença dos jovens nas ruas, seja pela forma truculenta por meio da qual o Estado iniciou o enfrentamento do fenômeno.

O pleito foi momentaneamente atendido. Governadores e prefeitos, surpresos com a dimensão dos atos e com a reação pública à atuação das polícias, mantiveram os valores das tarifas. O que a “política tradicional” não percebeu, contudo, foi a virada que esses acontecimentos promoveram na sociedade, sobretudo quanto ao modo de exposição de insatisfações sociais e de atuação política, embora não partidária.

Para que isso ocorresse, alguns ingredientes foram fundamentais, dentre eles a péssima sensação gerada pelos gastos com a Copa do Mundo de 2014, com constantes notícias acerca de bilhões destinados à construção de estádios, as quais contrastavam com a insatisfação relativa à qualidade dos serviços públicos e com a baixíssima identidade entre a população e os políticos eleitos.

Durante alguns meses, a mobilização se deu nas ruas e nas redes sociais, focando aspectos e agentes políticos de maneira difusa. No plano virtual, grupos e jovens lideranças ganharam popularidade. Os grupos organizavam os protestos, enquanto líderes eram identificados como suas principais vozes.

O que a “política tradicional” não percebeu foi a virada que esses acontecimentos de 2013 promoveram na sociedade

Com o advento da Operação Lava Jato a pauta difusa foi consideravelmente reduzida. As notícias diárias sobre as fases da operação, os valores milionários de desvio de dinheiro público, as prisões de empresários e políticos, bem como a divulgação de áudios, fotos e depoimentos serviram para tornar o governo da época o principal alvo das ruas.

A política se deparou com novos desafios. A conformação do espaço público – físico e virtual – passou a demandar diversas habilidades do setor. Políticos tradicionais não foram reeleitos, enquanto novos candidatos conquistaram mandatos.

Passados dez anos, indagações se apresentam: isso tudo foi bom ou ruim?; quais os responsáveis (por ação ou omissão)?; essa realidade era evitável?; existiria sem as redes sociais?; como lidar com a era virtual? Cada uma dessas perguntas enseja muitos argumentos. O retorno à situação anterior, porém, parece improvável. Cabe-nos conter arroubos autoritários, garantindo balizas democráticas à continuidade do processo político. Isso demandará estudo, empenho, argúcia e vigilância de parte das instituições basilares à democracia.