O que seria uma “boa esposa”? O conceito hoje parece subjetivo, mas até os anos 1960 era usado para descrever características bem específicas de uma mulher casada: era preciso saber cozinhar, bordar e cuidar do lar. Essa visão anacrônica é o que torna deliciosa a comédia francesa “A Boa Esposa”– além do charme e carisma de Juliette Binoche. A atriz interpreta Paulette Van Der Beck, diretora de uma escola conservadora que prepara jovens garotas para se tornarem esposas exemplares – como a própria Paulette. Instituições desse gênero surgiram na França em 1873 e duraram até 1971. Quando seu marido morre e a diretora afunda-se em dívidas, ela descobre finalmente que sua vida não era tão perfeita assim. Aos poucos, Paulette vai absorvendo os ideais libertários de suas alunas. Para completar a mudança é bom atentar ao período histórico abordado pela produção: o filme se passa na França em maio de 1968, época em que a revolução política e de costumes tomou as ruas do país. A presença das mulheres nos protestos era mais que justificada, uma vez que só puderam ter uma profissão e abrir conta bancária própria a partir de 1965. Lançado na Europa no ano passado, “A Boa Esposa” foi um sucesso de bilheteria e levou mais de 600 mil espectadores ao cinema, assim que as salas reabriram.

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As mulheres de Provost

Apesar de ser sobre a emancipação feminina, “A Boa Esposa” foi dirigida por um homem: Martin Provost, de 64 anos, conhecido por abordar esse universo com sensibilidade. Muitos de seus filmes são sobre o tema: “Séraphine”, que ganhou o César, o “Oscar” francês, homenageia a pintora Séraphine de Senlis, que viveu no século 19. Já a protagonista de “Aonde vai a Noite” mata o marido que a maltrata. “Violette” é a cinebiografia de Violette Leduc, escritora apadrinhada por Simone de Beauvoir. O filme “Duas Mulheres, um Encontro” conta a história de uma parteira e é estrelado por Catherine Deneuve.