Tem havido um equívoco na abordagem de Julieta, o novo longa de Pedro Almodóvar, que estreia nesta quinta, 7. Antes de falar sobre ele, cabe destacar que o mercado não anda muito receptivo com o filme médio brasileiro nem com o cinema de autor europeu. Na entrevista que deu ao jornal O Estado de S. Paulo sobre os números baixos de Trago Comigo, o belo filme de Tata Amaral, Adhemar Oliveira, do Grupo Espaço, disse que muito filme francês que antes faria números expressivos agora bate na metade, e isso quando chega lá. Adhemar colocou sua expectativa – na reversão desse quadro – nos novos filmes de Almodóvar e Woody Allen. Julieta está chegando, Café Society fica para as próximas semanas.

Almodóvar, portanto. E, sim, o equívoco. Tem muita gente dizendo que ele se esgotou como autor. Como não consegue criar mais nada novo, Almodóvar se repetiria, e errando. Até quem gosta médio de Julieta arrisca que o autor se repete. Na verdade, o filme é tão novo na trajetória do autor que Almodóvar agregou elementos de seu universo anterior para que o público, pelo menos em parte, o reconhecesse e, quem sabe, seguisse nessa viagem. Pois Julieta encerra uma viagem. Nenhum filme de Almodóvar percorre universos tão vastos, saltando de uma cidade a outra. E tem o mar. Julieta é sobre uma relação mãe e filha, mas a protagonista não se assemelha a nenhuma outra mãe de Almodóvar. O filme não é um melodrama, mas uma tragédia. Chamava-se inicialmente Silêncio, como um dos três contos de Alice Munro – em Fugitiva – em que o diretor e roteirista se baseou. Um filme de Almodóvar baseado no silêncio? E sombrio, ainda por cima.

Em Cannes, na coletiva de seu filme, Almodóvar se explicou. “Desde Má Educação, tenho a impressão de que meus filmes estão cada vez mais sombrios. Não tenho mais o mesmo gosto pelas histórias do começo de minha carreira. Tem a ver com a idade e com o tempo que passa, mas também com meu estado de espírito, a vida que levo, minha visão do mundo. Amantes Passageiros foi uma exceção, um piscar de olhos com o público e comigo mesmo, no estilo desordenado de meus primeiros filmes, de forma a mostrar que não mudei tanto assim. Mas, dessa vez, e de forma até violenta para mim, que sou um barroco, a própria escolha de Alice Munro me forçou a ser simples. Para mim, a dor não é um tema em Julieta, mas uma das personagens e talvez a personagem mais importante do filme.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.