Juliaca enterra seus mortos após confrontos de manifestantes com policiais

Juliaca enterra seus mortos após confrontos de manifestantes com policiais

Juliaca, cidade peruana de 260 mil habitantes, deu continuidade nesta sexta-feira (13) ao ritual de sepultamento de 19 pessoas, entre elas um policial, mortos esta semana em meio aos violentos protestos que exigem a renúncia da presidente Dina Boluarte.

Jhamileth Aroquipa, uma estudante de psicologia de 17 anos, e Elmer Leonardo, de 16 anos e que aspirava tornar-se jogador de futebol, foram os mais jovens mortos nesta cidade da região de Puno, na fronteira com a Bolívia, epicentro de manifestações contra o governo.

“A perda dela, tão jovem, me dói. Ela foi atingida por uma bala de 9 mm e isso é inconcebível. Não fomos aos protestos, somos pessoas pacíficas”, lamentou à AFP Demetrio Aroquipa, pai de Jhamileth, enquanto acompanhava o cadáver da adolescente.

“Minha filha ganhava a vida se esforçando nos estudos. Fomos fazer compras. Estávamos a dois quarteirões do protesto e olha o que aconteceu, voltamos sem minha filha”, lamentou o homem. Jhamileth estudava Psicologia em uma universidade de Cochabamba, na Bolívia.

Elmer sonhava em ser jogador de futebol em uma região que tende a produzir poucos profissionais nesse esporte. “Ele tinha um sonho muito grande: fazer 17 anos e viajar para o exterior para representar Puno”, disse sua amiga Ruth Karina Meza, de 18 anos.

“A mãe dele foi vender salteñas (empanadas à base de farinha) e, como ela não atendia o celular, ele, desesperado, foi procurá-la. Ele foi procurar a mãe e levou um tiro nas costas”, narrou a jovem.

Outras 17 famílias choram seus mortos de entre 16 e 40 anos em Juliaca, uma das cidades mais impactadas pela violência que explodiu desde que o presidente Pedro Castillo foi destituído e substituído por sua vice-presidente, Dina Boluarte, em 7 de dezembro.

Em Juliaca, também morreu queimado o policial José Luis Soncco, até agora o único membro das Forças Armadas que faleceu nos distúrbios.

Castillo foi destituído pelo Congresso e preso após um autogolpe fracassado com o qual tentou fechar o parlamento, intervir na justiça e governar por decreto.

O agora ex-presidente, que estava sendo investigado por corrupção, cumpre 18 meses de prisão preventiva ordenada por um juiz sob a acusação de rebelião.