O controverso cineasta Roman Polanski enfrentará, na terça-feira (5), na França, um julgamento por difamação, por questionar a veracidade das acusações de agressão sexual feitas contra ele pela atriz Charlotte Lewis.

O diretor franco-polonês, de 90 anos, que qualificou as acusações de “mentira odiosa”, não irá ao julgamento em um tribunal correcional de Paris, onde será representado por seus advogados.

A britânica Chalotte Lewis, de 56 anos, comparecerá à audiência.

O vencedor do Oscar e de uma Palma de Ouro foi acusado diversas vezes de agressão sexual e estupro ao longo de sua carreira, acusações prescritas que não o impediram de trabalhar. Ele sempre as negou.

Em maio de 2010, em pleno festival de Cannes, a intérprete britânica afirmou que o diretor de cinema a “agrediu sexualmente” durante um ‘casting’ em sua casa em Paris em 1983, quando ela tinha 16 anos.

Lewis, que participou do filme “Piratas” de Polanski em 1986, não o denunciou, mas prestou depoimento ante a polícia americana.

Nove anos depois, em dezembro de 2019, o diretor qualificou essas acusações de “mentira odiosa”, em uma entrevista à revista francesa Paris Match.

“Como veem, a primeira qualidade de um bom mentiroso é uma memória excelente. Charlotte Lewis sempre é mencionada na lista de meus acusadores sem que nunca apontem [suas] contradições”, afirmou o diretor.

O cineasta referiu-se desta maneira aos comentários atribuídos à atriz em uma entrevista publicada em 1999 pelo tabloide britânico News of the World: “Queria ser sua amante (…) Provavelmente desejava isso mais que ele”, escreveu o artigo.

Em 2010, Charlotte Lewis denunciou que suas declarações “não [eram] corretas”.

– “Difamar, desacreditar, caluniar” –

Após a entrevista de Polanski à Paris Match, a atriz apresentou uma denúncia por difamação, que na França quase sempre leva a julgamento.

Os advogados do cineasta negam qualquer difamação em suas declarações e chamaram como testemunha o autor do artigo do News of the World, Stuart White.

“Difamar, desacreditar e caluniar são parte integrante do sistema Polanski e isso é o que Charlotte Lewis denuncia com grande coragem”, declarou à AFP o advogado do atriz, Benjamin Chouai.

Polanski, nascido em 1933, vive na Europa para escapar da Justiça americana, que o considera fugitivo há mais de 40 anos após ser condenado por manter relações sexuais ilegais com uma menor.

Na França, vive de maneira discreta desde 2020 quando a atriz Adèle Haenel abandonou indignada a cerimônia do prêmio César francês, que o premiou na categoria de melhor diretor por seu filme “O oficial e o espião”.

Esse incidente tornou-se um dos símbolos da luta contra as agressões sexuais no mundo do cinema, que tomou força nos últimos meses com as acusações de várias mulheres contra o ator Gérard Depardieu.

O julgamento por difamação também coincide com a polêmica aberta pelas acusações da atriz Judith Godrèche contra os diretores Benoît Jacquot e Jacques Doillon por estupro quando era menor.

No final de fevereiro, a atriz denunciou o “tráfico de meninas” na sétima arte, durante a última cerimônia do prêmio César, assombrada pelas acusações de violência sexual.

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