O julgamento de Elize Matsunaga, no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, deverá se estender até o fim de semana. A previsão inicial era de que o júri popular chegasse a uma decisão sobre o homicídio do empresário Marcos Matsunaga até esta sexta-feira, 2, mas o ritmo dos depoimentos indica que a sessão deverá se alongar, podendo chegar ao domingo, 4.

Nesta quinta-feira, 1º, a última testemunha de acusação está sendo ouvida. Trata-se do médico legista Carlos Alberto de Souza Coelho, que elaborou parecer a pedido do Ministério Público no período da exumação do corpo da vítima – 10 meses depois do crime, que aconteceu em maio de 2012, a Justiça atendeu ao pedido para realização de novos exames nos restos mortais.

Após o depoimento de Coelho, estão previstas a convocação de oito testemunhas arroladas pela defesa de Elize, os debates entre a promotoria e os advogados, o interrogatório da ré – caso ela queira falar – e a votação dos jurados. O trâmite deve fazer com que o júri entre pelo fim de semana. O médico Coelho começou a ser ouvido às 9h30 desta quinta-feira e continuava respondendo a perguntas às 14 horas.

O depoimento do médico foi marcado pelo pedido de cancelamento do júri por parte da defesa. Coelho admitiu ter conversado “na terça ou quarta-feira” com o perito Jorge Oliveira, quando a sessão do julgamento já havia sido iniciada. Os advogados sustentaram ter havido violação do artigo 460 do Código de Processo Penal, que prevê o recolhimento das testemunhas em local onde não possam ouvir outros depoimentos.

O médico disse ter conversado com o perito para entender o porquê de ele ter feito adendos ao laudo necroscópico inicial do corpo de Marcos Matsunaga, em vez de ter feito documentos separados. As partes do empresário foram sendo encontradas ao longo de uma semana; Elize admitiu ter esquartejado o homem e jogado três malas em pontos diferentes das margens de uma rodovia em Cotia, na região metropolitana.

Para os advogados, o contato representou um fato grave que, em tese, poderia levar a dissolução do conselho de sentença. Eles analisam se ingressarão com pedido para que a interrupção seja garantida por instâncias superiores. Para o juiz Adilson Paukoski Simoni, que coordena as atividades, o contato não representou prejuízo ao processo.

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A opinião é compartilhada pelo promotor José Carlos Cosenzo. “Isso não é erro. Ficou bem claro, a defesa não quer terminar esse júri. É evidente não conseguem continuar o júri. A lei é clara: as testemunhas não podem conversar sobre aquilo que pode influenciar a opinião de um ou de outro. Mas eles não conversaram sobre o processo, (Coelho) fez uma pergunta administrativa”, disse.

Cosenzo disse que o depoimento do médico comprovou as teses de que Matsunaga foi esquartejado ainda com vida. Segundo Coelho, o local onde a bala ficou alojada na cabeça do empresário pode significar que ele não morreu instantaneamente.

“Endosso a opinião de que não houve morte imediata”, disse o médico. Ele comentou também outras características do corpo que supostamente reforçam a visão de que a secção do corpo começou a ser feita com o empresário ainda vivo.

O fato é relevante para a acusação, já que ela tenta condenar Elize por homicídio triplamente qualificado, que inclui uso de meio cruel e método que impossibilitou a defesa da vítima.

“Ficou bem claro que iniciou-se o esquartejamento enquanto ele ainda respirava, ele estava vivo. Levou o tiro e não morreu instantaneamente. A pergunta que fiz ficou bem clara: se a Elize se arrependesse e chamasse o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), ele poderia sobreviver? Ele (Coelho) falou que não dava para garantir, mas, provavelmente, sim”, acrescentou Cosenzo.

Para o advogado de Elize, Luciano Santoro, há laudos que provam o contrário. “A exumação foi feita e fala exatamente o contrário. O laudo mostrou que o tiro foi feito de longa distância e não havia reação vital. Portanto, a conclusão do perito é só dele”, disse.

A ré permaneceu durante toda a manhã desta quinta-feira com olhos fixos para o chão enquanto ouvia o depoimento. Santoro acrescentou que, no dia em que as testemunhas de acusação se encerram, a promotoria não conseguiu provar a motivação do crime.

“Isso é sensacional para a defesa porque mostra que a torpeza que havia colocado, que teria sido por dinheiro, vingança, nada disso foi abordado até agora”, afirmou.


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