05/09/2024 - 20:49
A juíza Raquel Vasconcelos Alves de Lima, da 2ª Vara Criminal de Belo Horizonte, condenou Lucas Passos Lima a 16 anos, 6 meses e 22 dias de prisão sob acusação de integrar organização extremista – o grupo radical Hezbollah – e realizar atos preparativos de terrorismo. A juíza definiu Lucas como ‘típico mercenário contemporâneo’. Segundo Raquel, ele agiu por ‘motivações primordialmente financeiras, mesmo se declarando evangélico praticante’.
O Estadão busca contato com a defesa. No processo, os advogados de Lucas pediram sua absolvição, alegando que o Ministério Público Federal não delimitou quais seriam os atos preparatórios ao terrorismo imputados ao réu e que não teria estado devidamente comprovada a autoria e a materialidade dos delitos. A defesa sustentou que as provas eram superficiais e que Lucas “não integrou ou constituiu organização terrorista e, tampouco, recebeu treinamento no Líbano”.
Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, Lucas pesquisou endereços judaicos em Brasília, levantou informações sobre líderes religiosos judaicos e realizou treinamento com armas de fogo com vistas a planejar atentados no País.
Lucas está preso desde novembro de 2023. Na ocasião, ele foi capturado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos (Cumbica). após retornar de uma viagem ao Líbano. A PF o colocou como um dos alvos principais da Operação Trapiche, que investigou o recrutamento de brasileiros para ataques contra prédios da comunidade judaica no Brasil.
De acordo com a Procuradoria, Lucas e outros três brasileiros foram recrutados por Mohamad Khir Abdulmajid, apontado como elo do Hezbollah com brasileiros arregimentados.
Mohamad Abdulmajid é sírio com naturalização brasileira e desde 2016. Segundo a Procuradoria, ele “integra e tem exercido um papel crucial na promoção e financiamento de uma organização terrorista vinculada ao grupo libanês Hezbollah”.
A denúncia diz que Lucas integrou o grupo ligado ao Hezbollah entre novembro de 2022 e abril de 2023, não só participando de atividades extremistas, mas tentando recrutar outros brasileiros. Ele fez duas viagens ao Líbano, financiadas por Abdulmajid, para receber treinamento.
Segundo a Procuradoria, Lucas fez atos preparatórios de terrorismo, como pesquisas e registros de locais judaicos no Brasil, incluindo sinagogas, cemitérios e a embaixada israelense. A Operação Trapiche também descobriu que ele coletou informações sobre líderes religiosos judaicos; buscou rotas de saída do Brasil sem controle migratório e tentou cooptar um piloto para atuar em “missões da organização terrorista”.
Ainda consta na denúncia que Lucas se envolveu em ações ligadas à guerra de Israel com o Hamas, tendo realizado treinamento de tiros e comprado equipamentos de espionagem.
Em sua sentença, a juíza Raquel Vasconcelos Alves de Lima entendeu que ficou claro que Lucas “se integrou ao grupo terrorista e praticou os atos preparatórios por motivações primordialmente financeiras, mesmo se declarando evangélico praticante e voltou do Líbano com discurso de cunho antissemita, o que torna ainda mais evidente o processo de treinamento pelo qual passou”.
Segundo a magistrada, desde o retorno de sua primeira viagem ao Líbano, Lucas começou a realizar atos preparatórios de terrorismo, com apoio financeiro.
No processo constam provas de recursos em moeda estrangeira, internalizados após cada viagem de Lucas – os valores serviam não só para o planejamento de ato terrorista, mas também para sua remuneração.
“Embora façam parte do discurso do réu opiniões de cunho ideológico religioso, absorvidas a partir do momento em que passa a integrar a organização terrorista e recebe treinamento, fica claro que o agir do réu tem motivações primordialmente financeiras. O réu é o típico mercenário contemporâneo que adere a “conflitos/guerras” alheias mediante remuneração”, frisou a juíza.
Apesar de o caso envolver um “terrorismo do tipo mercenário”, a magistrada destacou como Lucas incorporou o discurso antissemita de seus contratantes. “Como se vê da troca de mensagens entre Lucas e Dilson (ex-piloto) nas quais Lucas afirma que “quem mata quem estrupa quem tortura e israelita safado judeus”, bem como da troca de mensagens entre Lucas e André Luiz (amigo “cientista de dados” de Lucas), também já transcritas acima, nas quais, após trocarem imagens e vídeos a respeito de uma agressão que teria sofrido um ativista palestino com deficiência física por parte, segundo a matéria, de um “colonizador judeu israelense”, Lucas expressa “covardes” “ódio””, destacou a juíza.
Ela acentuou que o dolo de Lucas foi “devidamente comprovado”. “O compromisso inarredável em concluir o “projeto” e a “missão”, os alvos pesquisados, o discurso antissemita adotado, todas as atividades levadas a cabo por Lucas comprovam o intuito de se consumar, ao final, o ato de terrorismo”, alertou Raquel Vasconcelos Alves de Lima.