Na terça-feira (14), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) abriu dois processos administrativos disciplinares contra a juíza Ludmila Lins Grilo, da Vara Criminal e da Infância e Juventude de Unaí (MG), e também decidiu por afastá-la cautelarmente de suas funções até a conclusão dos procedimentos.

O primeiro pedido de processo que o CNJ recebeu contra a magistrada foi feito no dia 2 de janeiro de 2021 pelo advogado José Belga Assis Trad. Na ação, ele afirmou que a juíza cometeu infração ético-disciplinar ao se manifestar contra as recomendações das autoridades sanitárias sobre a pandemia de Covid-19.

Naquele ano, Ludmila havia publicado em seu perfil no Twitter um registro da sua viagem a Búzios, no litoral fluminense (RJ), durante as comemorações de Ano Novo e escreveu: “A cidade que não se entregou docilmente ao medo, histeria ou depressão #AglomeraBrail”.

Depois, no dia 4 de janeiro de 2021, a juíza publicou um vídeo no Twitter no qual deu dicas para as pessoas andarem sem máscaras dentro de locais fechados, o que era totalmente contrário às recomendações na época.

“Passo a passo para andar sem máscara no shopping de forma legítima, sem ser admoestado (advertido) e ainda posar de bondoso: 1 – compre um sorvete. 2 – pendure a máscara no pescoço ou na orelha, para afetar elevação moral. 3 – caminhe naturalmente”, escreveu Ludmila.

Outros processos

Além disso, Ludmila passou a ser investigada por publicar nas redes sociais críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e menosprezar o próprio cargo.

Por conta disso, ela foi acusada de manifestação política nas redes sociais e, em setembro de 2022, teve elas suspensas por decisão do ministro Alexandre de Moraes. Os seus canais de comunicação continuam desativados até hoje.

Antes de ter as contas retidas, a juíza publicou no Twitter que estava sendo silenciada.

“Eu sou associada à AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e estou em dia com as mensalidades. Um homem silenciou minha voz nas redes sociais utilizando-se da força estatal. Ainda não vi nenhuma nota da AMB em meu favor”, escreveu.

Além disso, Ludmila criticou o inquérito das fakes news durante uma entrevista ao programa “Os Pingos nos Is”, da rádio Jovem Pan. A magistrada o chamou de “inquérito do fim do mundo”.

Outra publicação da juíza no Twitter que está anexada aos processos é sobre a legislação eleitoral.

“Uma das bizarrices da legislação eleitoral é a tal da regra do ‘tamanho da fonte’. Só (falta) o papai-Estado querer estabelecer também o estilo ‘Times New Roman’ para negócio, ‘Arial’ para estadual e ‘Sans’ para municipal. O cagarregrismo cultural não dá trégua”, escreveu.

Ela ainda concedeu uma entrevista para Carlos Piloto na qual afirmou que era procurada por pais que tinham medo de que suas filhas entrassem nas universidades e virassem feministas com os cabelos azuis. “É perfeitamente reversível isso. Basta entregar para a sua filha as fontes de informação sem ideologia”, acrescentou.

Decisão

Durante a decisão de abrir os dois processos, o ministro Luís Felipe Salomão afirmou que Ludmila demonstrou total desleixo com o trabalho e “imenso desprestígio”.

“A reclamada não cumpre seus deveres básicos, deixando de comparecer no fórum mesmo sem ter autorização para realizar teletrabalho, negligenciando a gestão do cartório e deixando fiscalizar os atos de seus subordinados. Réus presos sem sentença, réus soltos sem audiência, um desleixo absoluto com a atividade”, disse.

Em sua defesa, Ludmila afirmou que está sendo alvo de um “assassinato de reputação” e um “estardalhaço midiático”. Ela ressaltou que o Gabinete de Segurança Institucional do Tribunal de Justiça recomendou o trabalho por videoconferência porque ela estaria sofrendo ameaças relacionadas ao seu trabalho.

Sobre a crítica à legislação eleitoral, a juíza relatou que os magistrados podem criticar as leis e fazer propostas de alteração.