Num esporte em que a técnica prevalece sobre a força bruta, as judocas lutam não apenas contra suas adversárias, mas também pela igualdade, em um caminho trilhado há muito tempo e que ainda há muito por avançar.

As mulheres judocas há muito tempo enfrentam discriminação e críticas.

Um princípio fundamental do judô é “Ju Yoku Go Wo Seisu”, que pode ser entendido como “suavidade dobra dureza”, ou seja, um judoca mais fraco pode usar a força de seu rival para vencê-lo.

Kaori Yamaguchi, que ganhou uma medalha de bronze no judô nas Olimpíadas de Seul em 1988 e agora tem assento no Comitê Olímpico Japonês, acredita que o fundador do judô, Jigoro Kano, tinha “uma mentalidade muito avançada” na época.

Como o primeiro membro asiático do COI, Kano considerou que a inclusão de mulheres e estrangeiros era um pilar de sua filosofia, uma vez que “o judô deve ser aberto” e contribuir para a paz mundial.

No entanto, após a morte de Kano em 1938, o judô feminino no Japão foi considerado um passatempo e a primeira competição com mulheres só ocorreu em 1978, disse Yamaguchi à AFP.

Nos Jogos Olímpicos, o judô masculino estreou em Tóquio-1964, mas as mulheres tiveram que esperar por Seul-1988, onde era um esporte de exibição, antes de se tornar parte do programa em Barcelona-1992.

O judô feminino no Japão ganhou grande relevância com a lendária Ryoko Tani. Quando se aposentou, a Federação Internacional de Judô a considerou “a melhor judoca feminina de todos os tempos”.

A superpopular Tani foi sete vezes campeã mundial na categoria -48 kg e conquistou medalhas de ouro em Sydney-2000 e Atenas-2004, que conquistaram sua fama e a tornaram um símbolo.

Em Londres-2012, o Japão experimentou a ‘vergonha’ de deixar de dominar tradicionalmente esse esporte e obter uma única medalha de ouro, que foi para uma mulher, Kaori Matsumoto.

Apelidada de “A Besta” por suas expressões e espírito de luta, Matsumoto “salvou a honra da comunidade japonesa do judô” naquele evento na capital britânica, ressaltou Yamaguchi.

– Métodos muito polêmicos –

Mais tarde, soube-se que a treinadora da equipe feminina, em preparação para o evento olímpico de 2012, usava uma espada de bambu para atingir os atletas, enquanto os insultava.

O escândalo de abuso foi a primeira página dos jornais e abriu noticiários no Japão, provocando debates sobre os métodos de treinamento de mulheres no judô.

Matsumoto disse à AFP que o treinamento “mudou completamente” entre os Jogos de Londres-2012 e os Jogos Rio-2016.

Haruka Tachimoto, que ganhou o ouro no Rio, disse que ela era como “um robô em movimento” até a mudança de métodos.

“Eu estava apenas fazendo o que me disseram para fazer”, afirmou.

Em Londres, terminou em sétimo e depois pensou em “uma mudança”.

“Olhei e ouvi várias pessoas. Estudei não apenas meus concorrentes, mas também a mim”, relembrou.

Yamaguchi conversava com as mulheres da equipe japonesa vítimas de atos violentos e afirmou que “os homens poderiam ter sofrido o mesmo”, mas que nenhuma queixa foi ouvida, talvez devido às regras tradicionais de não falar e respeitar os instrutores, muito atual no judô masculino.

“Foi o espírito das mulheres reagir aos valores tradicionais” que serviu para mudar o sistema, afirma com orgulho Yamaguchi.

Apesar da igualdade de gênero no judô ser melhor, ainda existem tetos de vidro, por exemplo, quando se trata de treinamento.

“É uma pena que não tenhamos conseguido uma treinadora para a seleção nacional feminina de Tóquio-2020”, disse.

“Espero que tenhamos uma treinadora para as Olimpíadas de Paris-2024”, concluiu.

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