Popole Misenga, judoca do time de refugiados criado pelo Comitê Olímpico Internacional, mostrou que não veio disputar os Jogos do Rio apenas para fazer figuração ao derrotar na estreia o indiano Avtar Singh, nesta quarta-feira, antes de perder para o campeão mundial de sua categoria (até 90 kg).

Popole, de origem congolesa, está no Rio desde 2013, quando veio disputar o Mundial, e acabou ficando no Brasil para fugir das guerras que abalam seu país. Ele é um dos dez refugiados que cometem sob a bandeira olímpica.

Junto com outra refugiada da República Democrática do Congo, Yolande Bukasa, ele treina no Instituto Reação, criado pelo ex-judoca medalhista olímpico Flávio Canto, projeto social que revelou Rafaela Silva, dona do primeiro ouro do Brasil na Rio-2016, na categoria até 57 kg.

“Acho que ele fez algo heroico. Quando chegaram, sequer tinham roupa ou quimono. Ontem mesmo, eu tive que comprar uma camiseta branca para Yolande, para colocar por baixo do quimono”, elogiou Geraldo Bernardes, treinador da campeã olímpica nascida e criada na Cidade de Deus.

Contra o indiano, 71º colocado do ranking, Popole entrou sob aplausos da torcida e conseguiu se impor na luta, levando o indiano a receber dois ‘shidos’ por falta de combatividade e encaixando um yuko nos segundos finais.

Quando soou o gongo, a ovação do público foi digna de uma comemoração de medalha e o atleta agradeceu ao desenhar com coração com as mãos.

– ‘Luta pela vida’ –

Nas oitavas de final, contra o sul-coreano Donghan Gwak, atual campeão mundial, Popole começou bem na luta, impondo sua força física e impedindo o adversário de atacá-lo, tanto que ambos levaram duas penalidades.

O público passou a acreditar em um ‘milagre’, mas o sul-coreano fez valer a superioridade técnica, com um movimento espetacular para imobilizar o atleta refugiado.

Apesar da derrota, Popole deixou claro que não quer parar por aí e pediu até revanche: “Quero voltar mais forte para pegar de novo o campeão mundial”, avisou.

“Eu consegui entrar na disputa. Venci uma luta, enfrentei o campeão do mundo e ele não conseguiu me projetar”, ressaltou o congolês, orgulhoso por não ter sofrido um ippon por queda. “Foi muito emocionante, todo o Brasil estava torcendo por mim”, recordou.

Yolande também lutou com muita garra, mas resistiu apenas por um minuto e 4 segundos, até sofrer ippon por imobilização diante da israelense Linda Bolder.

Mesmo assim, a congolesa só guarda boas lembranças da experiência. “Eu me senti muito bem. Ouvi muita gente gritando meu nome e me senti como se estivesse em casa”, comentou.

“Essas lutas não são apenas uma questão de judô. É uma luta pela vida”, resumiu.

“Quero mandar um recado para as crianças do Congo e todos os refugiados: acredite em você mesmo”, enfatizou Popole.