O responsável por quebrar a longa invencibilidade de quase 10 anos do gigante francês Teddy Riner, de 2,04 metros e 131 kg, foi o “pequeno” japonês Kokoro Kageura, que tem apenas 1,79 metro de altura e pesa 114 kg. O judoca chocou o mundo no Grand Slam de Paris ao superar no último domingo o bicampeão olímpico dos pesados no “golden score”.

“Eu estava esperando pela minha chance e tinha toda minha atenção focada nisso. Eu aproveitei em cima do que estudei do Riner. Só eu poderia vencê-lo”, comentou Kageura, bem menor que o rival, mas que obteve um resultado expressivo na “casa do rival”.

Ney Wilson, diretor de alta performance da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), já conhecia o potencial de Kageura nos tatames. “A gente tem participado de vários treinamentos com o Japão com a participação dele. Temos acompanhado sua trajetória. Ele pode até ser pequeno para a categoria, mas é bem habilidoso”, disse.

“Essa derrota traz duas coisas para a categoria dos pesados. A primeira é que os outros atletas viram que é possível ganhar dele. Outro fato relevante é a reação do Riner. De repente ele vai voltar a fazer coisas que não estava mais fazendo. Tenho certeza de que vai chegar na Olimpíada como favorito, pois ele é um atleta excepcional”, continuou.

Ele está em Paris com a delegação brasileira e viu de perto os desdobramentos dessa derrota impensável tempos atrás. “Essa vitória do Kageura serviu para mexer muito com a categoria. Estava cada vez mais perto de o Riner perder. Isso só mostra aquela máxima que conhecemos bem de que treino é treino, jogo é jogo”, comentou Ney Wilson.

Ele lembra que um aspecto importante é que Riner não vem competindo com regularidade e isso fez falta. “Tinham vários candidatos a ganhar do Riner. Ele quase perdeu para o georgiano, para o Krpalek, que era da categoria de baixo e subiu para os pesados… Teve algumas ameaças e o Japão vinha trabalhando bem para conseguir isso”.

A invencibilidade de Riner era de quase 10 anos e 154 lutas. Nos últimos anos, ele passou a ser menos ativo nas competições internacionais para não se expor tanto e no único confronto anterior contra Kageura, no Grand Slam de Brasília, no ano passado, já tinha sentido a força do rival, mas venceu.

Aquela derrota no Brasil, por causa de três shidos de punição, mexeu com Kageura, que passou a estudar todos os dias aquele combate em tatames brasileiros. A intenção era tentar encontrar algum ponto fraco no judoca hegemônico. Essa situação é bem comum na categoria, pois todos sempre treinaram para superar Riner.

“Ele faz muito bem as revertidas, a ponto de deixar o adversário atacar para reverter. Ele é baixo para a categoria, o que o ajuda a fazer isso! E também é muito forte. Acredito que ele carimbou o passaporte dele para a Olimpíada com essa vitória”, explicou o brasileiro David Moura, que é da mesma categoria.

Aos 24 anos, Kageura entrou para a história com esse feito e agora tentará ser o escolhido do Japão para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Ele não é o atleta mais bem ranqueado entre os pesados de seu país no ranking internacional (está em sétimo, atrás de Hisayoshi Harasawa, segundo colocado), mas tem esperança de disputar a competição.