O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu uma onda de críticas por acusar de “deslealdade” os judeus que votam em democratas, um episódio que expõe o mal-estar de alguns membros desta comunidade com o partido opositor.

Trump fez estes comentários na terça à noite, ao criticar os políticos democratas que apoiam um boicote a esse país do Oriente Médio.

“Onde foi parar o Partido Democrata?”, disse Trump.

“Acho que qualquer judeu que vote em um democrata (…) mostra uma falta total de conhecimento, ou uma grande deslealdade”, insistiu.

Ao ser questionado sobre essas declarações, no dia seguinte, antes de voar para Kentucky, Trump reforçou: “se votam num democrata, estão sendo muito desleais aos judeus e estão sendo muito desleais para com Israel”.

A comunidade judaica dos Estados Unidos é estimada em mais de cinco milhões de pessoas, das quais 80% votaram no Partido Democrata nas eleições de meio de mandato em 2018, segundo o Pew Research Center.

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Alguns de seus integrantes denunciam a noção de lealdade do presidente e o acusam de alimentar o antissemitismo.

“Não está muito claro o que foi que o presidente tentou dizer em relação a quem os judeus seriam desleais” ao votar nos democratas, disse à rede CNN o diretor-executivo da Liga Antidifamação, Jonathan Greenblatt.

“Embora não tenha sido exatamente claro sobre isso, eu serei muito claro sobre o que foi: [foi] antissemita”, acrescentou.

O presidente “não tem o direito de dizer aos judeus americanos que ele sabe o que é melhor para nós, ou exigir nossa lealdade”, disse a diretora-executiva do Conselho Democrata Judaico dos Estados Unidos, Halie Soifer.

As críticas de Trump se multiplicaram no Twitter com a hashtag #DisloyaltoTrump (“#DesleaaTrump”), assim como #KingofIsrael (“#ReideIsrael”).

– Bloco desunido –

Para além da recente polêmica, alguns judeus nova-iorquinos dizem se sentir cada vez mais incomodados com algumas posições adotadas pelo Partido Democrata.

Trump “não deveria ter dito isso”, comentou Ben Mizrachy, um aposentado de 80 anos. “Não me agrada que metam os judeus em discussões político-partidárias”, completou.

“Mas, a verdade é que alguns judeus, mesmo os que votaram nos democratas como eu, estão sendo decepcionados pelo partido”, porque seus líderes não estão reagindo o suficiente ao que parece antissemitismo por parte de alguns de seus membros, alegou.

A distância entre o Partido Democrata e Israel “aconteceu durante um tempo, mas foi mais drástica nos últimos quatro a oito anos”, disse Shmuel Asher, de 35 anos, um eleitor democrata registrado que afirma, porém, estar pronto para apoiar Trump nas eleições presidenciais de 2020.

Asher baseia sua decisão em duas ações do presidente: a mudança da embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém e a saída do pacto nuclear com o Irã, um acordo que foi criticado por Israel.


Já Susan Bardfield, uma aposentada de 73 anos, diz que se mantém como uma firme democrata e mais anti-Trump do que nunca. “É um idiota. Nada que sai de sua boca ajuda”, completou.

Susan reconhece que os judeus “não são um bloco unido” e, como o restante do país, estão particularmente divididos em relação a Trump.

“A maioria dos judeus que conheço que votam em Trump faz isso por Israel”, explicou. “É como dizem: se você tem cinco judeus em uma sala, terá seis opiniões”, afirmou Susan.


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