Haylena Barbosa nunca imaginou o colapso que sua Manaus enfrentaria durante a vertiginosa segunda onda da pandemia, mas longe de se deixar abater, tocada pela solidariedade, ela organiza doações diariamente, incentivada pela também inesperada resposta altruísta de parte da sociedade.

“Acompanhamos as notícias e decidimos fazer alguma coisa”, explica à AFP a jovem de 22 anos, durante sua rodada de entregas de almoços na capital do estado do Amazonas.

O colapso do sistema de saúde de Manaus atingiu seu ápice em meados de janeiro, com a morte de dezenas de pessoas por asfixia por causa da falta de oxigênio nos hospitais saturados com a explosão de casos.

Diante desse impacto, Haylena e seus amigos começaram a pedir ajuda nas redes sociais para coletar doações.

No primeiro dia, distribuíram álcool em gel e papel toalha.

Uma semana depois, além de 120 almoços diários, distribuem equipamentos médicos, recebem doações de outros estados e levam suprimentos para cidades do interior deste estado de 4,2 milhões de habitantes.

“Não imaginamos a proporção que isso tomaria”, diz emocionada a jovem de voz doce, que interrompeu seu trabalho em uma empresa familiar para se dedicar a estruturar a rede de ajuda.

O dia começa quando seu amigo Gustavo Maia, de 23 anos, chega na sua casa para elaborar o plano de ação.

“Pouco a pouco, fomos nos organizando. Conseguimos contatos em alguns hospitais e eles dizem os medicamentos e equipamentos que precisam”, explica Haylena.

O grupo usa o dinheiro arrecadado para comprar os insumos e os distribuí junto aos almoços para os profissionais na linha de frente contra a covid-19. Depois, fazem uma prestação de contas, sob o nome “Ação Covid”, nas redes sociais.

“No final do dia, não sobra nada, mas na manhã seguinte aparecem doações novamente”, conta Gustavo, sorrindo sob uma máscara dupla. “É incrível, só Deus explica”.

O grupo de amigos se prepara para realizar neste fim de semana uma de suas operações mais ambiciosas: levar 40 cilindros de oxigênio para uma cidade a 4 horas de distância. “Soube da distância à noite”, diz Gustavo, sem perder o sorriso.

Tanto Haylena como Gustavo contraíram a covid-19 no ano passado e agora temem se reinfectar e expor seus familiares, mas afirmam estar dispostos a continuar incansavelmente com a missão que se propuseram a realizar.

– Aliviar a dor –

As respostas solidárias contam com outros exemplos em Manaus.

Thalyta Tamer, de 22 anos, se tornou uma das três pessoas a servir de ponte entre os médicos exaustos pelo trabalho no Hospital João Lúcio e os familiares dos pacientes, que não podem visitá-los para evitar contágios.

Esta ex-funcionária do serviço social de uma empresa pública não hesitou em se candidatar ao cargo, que põe sua empatia e solidez emocional à prova diariamente.

Carla Cristine é uma das pessoas a quem ajudou, colocando-a em videochamada com seu pai. No fim da chamada, a mulher desabou em lágrimas.

“Os médicos estão muito ocupados e graças a ela pude falar com meu papai todos os dias, não tenho como agradecer”, conta.

Mas a jovem já está falando com outro familiar, que lhe entrega o documento de identidade de um paciente para que ela o ajude a localizá-lo.

“Dou o melhor de mim para ajudar essas pessoas. Trato como se fossem minha família. Meu trabalho é aliviar a dor”, diz ela à noite, quando dispõe de alguns minutos para conversar.

Embora o dia a dia seja difícil, a jovem espera se formar neste ano em serviço social e diz que nem tudo é tristeza: “Fico feliz com as altas, com as vitórias”.

Thalyta também comemora ter recebido a primeira dose da vacina contra a covid-19. “De noite, eu reflito sobre o que estamos vivendo. É preciso ter fé e força e acreditar que tudo isso vai passar”, afirma.