Participantes de concurso musical usam a música para expressar suas opiniões políticas e desencadear mudanças sociais. Brasileira está entre os participantes.Falando por telefone desde Port Elizabeth, na África do Sul, Kuhle Bashe parece confiante. O jovem de 23 anos, que usa o pseudônimo DJ T.S.U., sente-se fortemente influenciado por tudo o que acontece no mundo hoje e usa a música para expressar suas opiniões. Tomemos por exemplo a letra de sua última canção, “Covid Manipulation”.

“Sementes plantadas os frutos estão longe de serem cultivados

ainda assim o governo pisoteia a terra que construímos e possuímos

a esperança se foi, ainda assim somos forçados a viver uma vida reformada

Temos que ser todos cínicos…”

Na canção, Bashe critica o governo de seu país por, segundo ela, usar a pandemia como tática de fuga “para controlar as pessoas, para nos dizer para onde ir, o que não fazer”. Nós não temos mais a liberdade. Você não pode ir a lugar algum quando quiser”, diz Bashe, expressando sua frustração com a corrupção e a incapacidade do governo de ajudar as pessoas nestes tempos difíceis.

A música é a forma de Bashe expressar sua insatisfação com o sistema. “Assim como 'Covid Manipulation', algumas de minhas outras canções também têm significados subjacentes embutidas que realmente desafiam as normas ou motivam outras pessoas”, disse à DW.

Música como plataforma

Bashe e outros músicos que lidam com temas políticos participam do concurso “Sua Canção para um Mundo” (Deinen Song für eine Welt), organizado pela ONG alemã Engagement Global e apoiado financeiramente pelo Ministério Alemão de Cooperação Econômica (BMZ, do nome em alemão).

Aberto a participantes de 10 a 25 anos da Alemanha, de vários países da Europa e do Hemisfério Sul, o concurso oferece uma plataforma para os jovens trocarem ideias sobre um mundo unificado e desenvolvido.

Após o encerramento das inscrições, as músicas foram disponibilizadas na plataforma plataforma online e, dependendo da situação pandêmica, os finalistas poderão exibir suas habilidades em um evento ao vivo no final deste ano na Alemanha.

Fusão de experiências do Brasil e de Camarões

A estudante brasileira Sofia Tudoras é uma das participantes. A estudante de Ciências Biomédicas tem 20 anos e está matriculada na Universidade de Marburg, no estado alemão de Hesse e adora música. “Sempre brinco que nasci da música”, diz ela, explicando que seu pai é violinista e a mãe, cantora de ópera.

Embora Tudoras nunca tenha realmente aprendido música formalmente, ela sabe tocar piano e violão. A brasileira nasceu e cresceu em São Paulo, e veio para a Alemanha em 2015 para estudar.

Em seu tempo livre, ela adora fazer música com seu parceiro cantor, Jean Yves, que é camaronês e mora em Giessen, perto de Marburg. Eles se conheceram através de uma organização universitária que reúne estudantes internacionais.

“Somos muito diferentes, viemos de países diferentes”, diz Tudoras. Jean Yves passou seus verões em uma pequena cidade camaronesa chamada Sangmelima, enquanto crescia na capital, Yaoundé.

Mas eles têm muito em comum. “Por exemplo, eu venho de São Paulo e lá não se vê árvores nem natureza. É uma selva de concreto e cresci acreditando que é normal ter uma separação entre ricos e pobres que vivem em uma espécie de relação simbiótica, só que não é realmente isso. E ele (Yves) experimentou a mesma coisa”, diz Tudoras.

Tudoras e Yves reúnem suas experiências diferentes, mas semelhantes, na canção “Licht der Welt” (Luz do Mundo) inscrita o concurso “Sua canção por um mundo”.

A canção, que pede um fim às guerras, ao desmatamento e ao consumismo sem fim, é sua maneira de dizer que precisamos fazer algo para acabar com a miséria no mundo.

Mudar o mundo com música

Um mundo diferente também é algo com que sonha Kevin Beler, outro concorrente. O rapper de Stuttgart tem 20 anos e trabalha com um produtor musical profissional. Ele quer que sua geração se torne mais autoconfiante. Sua canção, que inscreveu sob o pseudônimo Eamiq, que significa “profundo” em hebraico, chama-se “Jeder ein Juwel” (Cada um é uma joia).

Segundo Beler, a canção é sobre acreditar em si mesmo – uma referência a sua luta com uma deficiência que o marginalizou desde cedo em sua vida. “Por isso é importante para mim ir lá fora no mundo e dizer, hey, todos têm um talento, todos podem alcançar algo… e, acima de tudo, todos estão bem do jeito que são e precisamos espalhar um pouco mais de amor pelo mundo”.

No final, não se trata tanto de ganhar a competição, mas do fato de suas canções “terem uma mensagem”, diz Beler. E qual é a melhor maneira de espalhar uma mensagem do que entrar em uma competição musical que pede apoio aos desfavorecidos e desprivilegiados, acrescenta.

Os concorrentes veem a música como uma forma universal de alcançar a sociedade. Kuhle Bashe, de Port Elizabeth, dá um exemplo de seu próprio país: “A África do Sul tem uma história muito rica quando se trata de música e política. Mesmo durante o apartheid, a música foi a forma de nossa revolução, de enviar a mensagem ao povo”. É a única língua que as pessoas entendem, explica.

A brasileira Sofia Tudoras complementa: “Eu gosto de pensar assim: as vibrações que saem do meu violão, da minha garganta, chegam ao cérebro de todos da mesma maneira. Quando ouço uma música, posso experimentar os mesmos sentimentos que uma pessoa do outro lado do globo, porque a música se conecta, ela traz alegria. É uma língua internacional”.