Alexandra não acha que sua voz seja ouvida em Bruxelas. Assim como muitos jovens gregos, atingidos em cheio pela crise, a estudante não tem certeza se irá votar em 26 de maio por uma Europa à qual culpa pela complicada situação em que a Grécia se encontra.

Confrontada com as medidas de austeridade impostas por Bruxelas, a nova geração só se sente em parte europeia em um país onde o salário mínimo é de 650 euros brutos (cerca de R$ 3.000) e o desemprego entre os jovens beira os 40%.

“Gostaria de sentir que tenho as mesmas oportunidades que todos os cidadãos dos outros países da União Europeia, mas não é o caso”, avalia Alexandra, recém-formada na Universidade de Agricultura de Atenas.

A Europa, que considera “responsável pela situação crítica em que a Grécia se encontra”, lhe oferece perspectivas profissionais e pessoais que são raras em seu país.

Na Alemanha, aonde decidiu partir, a jovem espera ter “mais oportunidades para empreender e começar sua vida de adulta”.

“Por um lado, os vínculos [com a Europa] são objetivamente mais fortes, os intercâmbios e as amizades, maiores. Por outro, os jovens gregos vivem uma situação difícil que está diretamente relacionada com a Europa”, explica Giannis Kouzis, decano da Faculdade de Ciência Política da Universidade Panteion de Atenas.

Esta relação ambivalente com a Europa é reincidente na sociedade grega, onde apenas 54% da população considera que a Grécia seja beneficiada por pertencer à União Europeia (desde 1981), segundo estudo do Parlamento Europeu publicado em outubro de 2018.

Isto se sente ainda mais na jovem geração, muito afetada pela crise.

Segundo dados da OCDE, 39,9% dos jovens ativos gregos entre 15 e 24 anos estavam desempregados em 2018, enquanto a média para o conjunto dos países da UE se situava em 15,2%. Sem dúvida, uma razão para que os jovens gregos decidam ir embora.

– Em busca de oportunidades na Europa –

“Ao redor de 350.000 pessoas emigraram durante os anos de crise, sobretudo jovens que se deparavam com um mercado de trabalho grego que não lhes oferecia oportunidades adequadas”, explicou o professor Kouzis.

A Grécia, que no passado abandonou oficialmente o programa de ajuda internacional da UE e do FMI, esteve mergulhada durante quase uma década em uma recessão inédita destinada a purgar a dívida pública e evitar um Grexit forçado.

Agora, embora considere que “a Grécia foi um laboratório das políticas de austeridade da União Europeia”, Thanassis confia no projeto europeu, que “ainda tem muito a aportar”.

Filho de funcionários públicos e criado em Kozani, região do norte da Grécia particularmente afetada pela crise, o jovem de 20 anos viveu com sua família “as reduções de salário, à queda do poder aquisitivo”.

“Apesar dos erros”, defende que haja “mais Europa e mais solidariedade para espantar o fantasma da ultradireita”.

Além disso, é em Bruxelas que este estudante do terceiro ano de Relações Internacionais e Ciências Políticas decidiu efetuar seu programa de intercâmbio universitário Erasmus, “o mais belo feito das políticas europeias”.

Eliana decidiu deixar Atenas em 2010, quando começou a crise, para continuar com seus estudos de arquitetura na Universidade de Artes de Londres. Mas na Inglaterra, Eliana se sentia “exótica”, afetada pela imagem negativa que a Grécia tinha no exterior, ao ponto de “sofrer muito racismo”. Depois de cinco anos, decidiu voltar ao seu país e lançar ali sua marca de design.

“Você tem a impressão de estar mais integrada porque viaja, fala várias línguas, mas acaba bombardeada por estereótipos sobre a indolência dos gregos”, lamentou. Quando perguntada se se sente europeia, respondeu: “Por acaso os europeus nos consideram assim?”.

Apesar de ser o mais frágil da União Europeia, o sentimento de cidadania europeia na Grécia aumentou e hoje é majoritário (51%), segundo relatório da Comissão Europeia de junho de 2018.