28/11/2019 - 17:31
A inspiração esportiva de Paulo Vitor Barbosa, de 15 anos, está no sangue: “Meu primo Gabriel Barbosa sempre foi minha motivação maior. Ele me dá forças e eu consigo treinar bem”.
Mas calma, o Gabriel Barbosa em questão não é o Gabigol, herói do Flamengo na conquista da Copa Libertadores. Mas é um dos arremessadores das equipes menores do Colorado Rockies, franquia da Major League Baseball (MLB), a liga de beisebol dos Estados Unidos. Paulo Vitor, da mesma posição, quer seguir os passos do primo. Por isso é um dos cerca de 80 meninos que, nas últimas três semanas, participaram de uma seletiva para bolsas na academia mantida pela MLB no centro de treinamento da Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol (CBBS) em Ibiúna (SP).
Esses jovens vêm de vários cantos do Brasil, mas principalmente do interior paulista. A colonização japonesa impulsionou a modalidade em cidades do oeste do estado, como Bastos e Marília, de onde veio Kevin da Silva, de 14 anos. Ele começou em um projeto social no qual também jogava futebol. O esporte mais popular do país perdeu um zagueiro, mas o beisebol ganhou um arremessador.
“[No projeto] era um monte de jovens, que eles levavam para o Nikkey [clube de beisebol local]. Ficavam os que o professor gostava. Aí foi outra coisa. Quando eu vi [o beisebol] já quis jogar. E desisti do futebol”, declarou.
O centro de treinamento em Ibiúna existe há 20 anos, mas o projeto da MLB no país ainda caminha para a quarta temporada. Nos três primeiros anos, 16 jogadores deixaram a academia direto para franquias da liga. Um exemplo é o arremessador Eric Pardinho, que em 2017 tornou-se o jogador brasileiro mais caro da história do beisebol ao receber US$ 1,5 milhão (R$ 5 milhões, na cotação da época) para assinar com o Toronto Blue Jays.
O mesmo Blue Jays contratou outro arremessador brasileiro. Rafael Ohashi é um dos seis jovens formados em Ibiúna que acertaram com franquias da MLB neste ano. “A chance [de jogar na MLB] aumenta em torno de 80% [para quem treina na academia]. Aqui estão os melhores técnicos, a melhor estrutura do país. E, com certeza, para os olheiros, quando vêm ao Brasil, o foco é esse, pois sabem que os melhores jogadores estão aqui”, afirma.
Quase 30 jovens participaram da seletiva que a Agência Brasil acompanhou. Após um rápido bate-papo com técnicos e avaliadores, os garotos iniciaram uma bateria de testes de habilidade.
“Eles começam correndo 60 jardas [cerca de 54 metros]. Depois testamos a força do braço e habilidades de defesa, como pegam a bola. Em seguida são os catchers (receptores). Marcamos o tempo de arremesso até a segunda base. Aí, rebatidas. Analisamos a força, a habilidade, se a rebatida é mais curta ou mais longa, qual a mecânica. Por fim, nos concentramos nos arremessadores, vemos a velocidade e o efeito que colocam na bola”, detalha Thiago Caldeira, técnico da academia da MLB no Brasil.
Neste ano, 40 jovens ficaram alojados no CT. Ou seja, as vagas da seletiva são limitadas. Porém, ser reprovado não significa necessariamente o fim do sonho.
“Há muitos atletas que passam de primeira. É preciso ter paciência. Às vezes é necessário estar mais maduro fisicamente, e aí o garoto consegue ser aprovado cinco, seis meses, ou um ano depois. O que digo a eles é que se animem com o beisebol, porque é um esporte que ajuda as crianças a ficarem distantes de coisas que podem corrompê-las”, declara Henry González, gerente de desenvolvimento da MLB.
Longa trajetória
Ser aprovado na academia e ficar na mira das franquias é só o início de uma longa trajetória. Após uma eventual contratação do atleta são seis ligas de acesso: rookie, Classe A (curta), Classe A, Classe A-Avançada, Double-A e Triple-A. Somente depois se chega à Major League, onde figuram os maiores nomes do beisebol mundial.
Em 2019, 22 brasileiros foram espalhados por esses torneios, sendo quatro na elite: o rebatedor Bo Bichette (que nasceu nos Estados Unidos, mas é filho de mãe gaúcha e já representou a seleção do Brasil), os arremessadores Luiz Gohara e Thyago Vieira e o receptor Yan Gomes, campeão da última temporada pelo Washington Nationals. Antes dele, o defensor Paulo Orlando (hoje sem franquia, ou “agente livre”) foi o primeiro jogador do país a conquistar um título da MLB, em 2015 pelo Kansas City Royals.