O médico Samuel Custódio, de 27 anos, foi parar em um pronto-socorro de São Paulo (SP), após desenvolver uma reação alérgica depois de comer um bobó de camarão na casa de uma amiga na segunda-feira (24). Nas redes sociais, uma foto do rosto inchado do jovem viralizou após ele comentar que não conseguia desbloquear o Iphone pelo Face ID.

“Comi camarão, tive um angioedema e agora o Iphone não reconhece meu rosto pra desbloquear por reconhecimento facial”, escreveu o médico no Twitter. A publicação alcançou mais de 81 mil curtidas e teve mais de 2 mil comentários.

Em entrevista à ISTOÉ, o jovem contou que não era a primeira vez que ele comia o fruto do mar. “Eu como desde sempre, desde pequeno, já tinha tido reações mais locais, coçava um pouco a garganta quando eu comia. Como as reações tendem a piorar e eu comi um tanto considerável na segunda-feira, eu atribuí ao camarão mesmo”, explicou Samuel.

Cerca de uma hora e meia depois da refeição, o médico conta que começou a sentir os sintomas da reação alérgica. Além do inchaço na região dos olhos, Samuel explicou que teve bastante coceira no corpo. Em casa, ele chegou a tomar um antialérgico, mas com a piora dos sintomas, ele decidiu ir ao pronto-socorro, onde foi medicado com um corticoide e um anti-histamínico intramuscular.

“Fiquei um tempo em observação para ver se melhorava o edema. Melhorou um pouco, não piorou mais, não tive mais tosse, falta de ar, nem outro sintoma de gravidade e aí fui liberado”, afirmou.

Em casa, o jovem continuou o tratamento com corticoide e anti-histamínico e apresentou melhora já na terça-feira (25), dia do aniversário dele. “Ainda estava um pouquinho inchado [o rosto], nada parecido com o que estava na foto, mas deu para sair com os amigos”, contou Samuel. “Não como mais nenhum fruto do mar depois disso”, desabafou o médico.

Alergia alimentar a camarão

De acordo com o médico José Luiz Magalhães Rios, membro da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), a reação alérgica a camarão ocorre por conta de uma proteína chamada tropomiosina, presente nos crustáceos. “É uma proteína que tem característica de facilmente provocar alergia”, explicou Rios.

Ainda segundo o especialista em alergia alimentar, o fato do camarão geralmente ser consumido de forma esporádica contribui para o surgimento de reações alérgicas.

“O leite e o ovo também têm proteínas pesadas, mas a criança começa desde novinha a comer e o fato de se manter comendo habitualmente o alimento impede que a alergia àquele alimento apareça. A maioria das alergias alimentares em adultos são de alimentos que a gente não come todos os dias”, afirmou.

“Nas primeiras vezes que você entra em contato com a proteína, você se sensibiliza. Isso significa que seu corpo sinaliza que tem uma substância estranha entrando em contato com ele. E aí ele pode desenvolver um tipo de reação, que é a reação alérgica. Aí em um novo contato, mais pra frente, o corpo já está preparado e faz a reação alérgica”.

Quais são os sintomas?

Os sintomas mais comuns da alergia a camarão são coceira ou vermelhidão na pele, urticária, inchaço (edema) nos lábios e nos olhos, coriza, entupimento do nariz, crise de espirros, tosse, falta de ar, cólica e vômito.

“Se a reação for muito intensa, a soma dessas reações na pele, no pulmão e no aparelho digestivo, a gente chama de reação anafilática, que é grave e pode evoluir para morte. Outra reação é o edema de glote, assim como pode inchar a boca e o olho, também pode inchar a garganta, inchando ali o ar não passa, mas isso é mais raro”, disse Rios.

Conforme o médico, caso a pessoa tenha uma reação leve como coceira ou crise de espirros, ela pode tomar um antialérgico. No entanto, Rios destaca que é necessário ficar atento aos sintomas, pois uma reação mais forte requer atendimento médico.

“Uma reação leve pode evoluir para uma reação grave. A pessoa pode em minutos [após ingerir o alimento] empolar, coçar, ficar vermelho, evoluir para sintomas respiratórios, ter um broncoespasmo forte, ter um edema de glote, ter uma queda de pressão. O único remédio é a injeção de adrenalina”, afirma Rios.

O médico lembra que quem tem alergia ao camarão, também tende a ter alergia a outros crustáceos como a lagosta, o siri e o caranguejo, já que esses animais também possuem a mesma proteína do camarão. A pessoa alérgica aos crustáceos também precisa evitar alimentos que tenham sido preparados junto ao camarão.

Ele recomenda ainda evitar outros frutos do mar como polvo, lula e mariscos. “Cerca de 40% das pessoas que têm alergia ao camarão, também reagem a esses frutos do mar, mas é difícil saber. Se a pessoa não for a um alergista e fizer um exame específico para esses moluscos, eu recomendo que não coma nenhum desses frutos do mar”, destacou Rios. O especialista acrescenta que peixes podem ser consumidos.