Rahaf Mohamed al-Qunun, a jovem saudita que chamou a atenção do mundo inteiro depois de fugir da família e solicitar asilo no exterior, chegou neste sábado (12) ao aeroporto de Toronto, onde foi recebida pela ministra das Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland.

“Ela fez uma longa viagem, está exausta e prefere não responder perguntas neste momento”, disse Freeland aos repórteres que esperavam pela jovem, de 18 anos.

A saudita, que desembarcou em Toronto usando um boné azul e um casaco de moletom com a inscrição Canadá, diz fugir da violência física e psicológica de sua família, motivo pelo qual o premiê Justin Trudeau decidiu lhe conceder asilo.

“Ela queria que os canadenses vissem que chegou ao Canadá”, acrescentou Freeland, ao lado da jovem.

A ministra elogiou a “coragem” de Rahaf, a quem deu as boas-vindas “a seu novo lar”, o Canadá.

“Penso acender uma única vela e onde pudermos salvar uma única pessoa, onde pudermos salvar uma única mulher, é algo bom”, disse.

A chegada da jovem a Toronto é o epílogo de um caso que mobilizou vários países por uma semana, depois que ela divulgou sua situação pelo Twitter.

Ela foi detida na semana passada, ao chegar a Bangcoc, procedente do Kuwait, onde tinha conseguido escapar de sua família.

Inicialmente, as autoridades tailandesas ameaçaram deportá-la de volta para casa, a pedindo da Arábia Saudita.

Mas Rahaf se entrincheirou em um quarto de hotel no aeroporto, tuitando várias mensagens e vídeos desesperados, com os quais rapidamente chamou a atenção do mundo.

Ela também disse à Human Rights Watch que pretendia renunciar ao Islã, o que a colocaria em “grave perigo”, segundo a ONG.

Depois de uma mobilização a seu favor nas redes sociais, as autoridades tailandesas renunciaram à ideia de deportá-la e lhe permitiram sair do aeroporto com representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

Arábia Saudita é um dos países mais restritivos do mundo para os direitos das mulheres, que precisam se submeter à tutela de um homem, seja o pai, o marido ou outro, o qual exerce sobre elas uma autoridade arbitrária e toma seu lugar nas decisões importantes.

Rahaf se negou a ver o pai, que viajou para a Tailândia e se opôs à sua partida.

– Tensões entre Riad e Ottawa –

Após uma mobilização ao seu favor pelas redes sociais, as autoridades tailandesas desistiram da ideia de deportar a jovem e lhe permitiram deixar o aeroporto com representantes do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).

“Não duvido que será rapidamente atendida do ponto de vista material pelas autoridades canadenses e as ONGs, que também farão o que for necessário para que possa retomar os estudos que diz ter interrompido por pressão de sua família”, disse o advogado francês da moça, François Zimeray, entrevistado pela AFP antes da chegada dela a Toronto.

Depois de o caso vir à tona, a Polícia tailandesa pôs Rahaf sob a proteção da Acnur na Tailândia e essa agência da ONU apresentou um pedido de asilo a vários países, inclusive a Austrália, em um primeiro momento.

Na tarde de sexta-feira, o premiê canadense, Justin Trudeau, confirmou que o Canadá havia lhe concedido o asilo.

“Estamos encantados de fazer isso, já que o Canadá é um país que reconhece a importância de defender os direitos humanos e das mulheres no mundo”, declarou Trudeau à imprensa, pouco depois de as autoridades tailandesas anunciarem a partida da adolescente rumo ao país norte-americano.

Esta decisão pode reacender as atuais tensões entre Riad e Ottawa. A Arábia Saudita anunciou em agosto a expulsão do embaixador canadense, chamou o seu para consultas e suspendeu qualquer nova relação comercial ou investimento com o Canadá devido às duras críticas do governo de Trudeau ao reino muçulmano ultraconservador.

As autoridades canadenses criticavam Riad pela detenção de ativistas pró-direitos humanos sauditas, entre eles Samar Badaui, irmã do blogueiro preso Raef Badaui, cuja esposa e três filhos vivem refugiados em Quebec.

A situação de Qunun “captou a atenção internacional nos últimos dias, oferecendo um vislumbre da precária situação de milhões de refugiados em todo o mundo”, disse Filippo Grandi, chefe da Acnur.

“A proteção dos refugiados hoje em dia está frequentemente ameçada e nem sempre pode ser garantida, mas neste caso o direito internacional dos refugiados e os valores primordiais da humanidade prevaleceram”, acrescentou.

O caso da jovem ocorreu em um período em que muitos olhares se voltam à questão do respeito aos direitos humanos no país árabe, meses depois do assassinato do jornalista saudita Jamal Khashoggi na Turquia.