Jovem agricultor quer reviver Fukushima 14 anos após desastre nuclear

Jovem agricultor quer reviver Fukushima 14 anos após desastre nuclear

"HaraguchiRegião foi atingida por terremoto e tsunami em 2011, que desencadearam vazamentos de radiação de usina nuclear. Quatorze anos depois, jovem aposta em resgatar região que ficou inabitável.O jovem agricultor Takuya Haraguchi tinha 11 anos quando o terremoto mais poderoso da história do Japão sacudiu o nordeste do país e causou o maior deslocamento de terra já registrado em todo o mundo. O posterior tsunami empurrou o mar com fúria até a usina nuclear de Fukushima, na costa nordeste do país. A massa de água criou ondas de até 15 metros de altura e provocou um desastre nuclear. A catástrofe que atingiu o país em um único dia deixou mais de 18 mil mortos.

Haraguchi, que morava em Osaka, a 800 quilômetros da zona do desastre, temeu na época que a radiação resultante do acidente tornasse todo o país inabitável. Milhares de pessoas precisaram ser evacuadas em raios de até 30 quilômetros devido ao vazamento de radiação da usina nuclear.

Agora, aos 25 anos, Haraguchi hoje mora no município de Okuma, a poucos quilômetros de onde ficava a usina nuclear de Fukushima Daiichi. Ele acredita no futuro da região. "Todo mundo ouviu falar do acidente nuclear. Mas poucas pessoas conhecem esta região e os esforços que estão sendo feitos para seguir em frente", diz o jovem à agência de notícias AFP.

"Plantando kiwis aqui, gostaria que as pessoas se interessassem (…) e descobrissem o que realmente é [a província de] Fukushima hoje", acrescenta.

Produtos seguros

Antes do acidente, a região era famosa pela farta plantação de peras e pêssegos. Mas o desastre nuclear destruiu tudo e criou um tabu sobre os produtos da região.

Mais de uma década depois do que foi considerado o pior acidente nuclear pós-Chernobyl, e após grandes operações de descontaminação, incluindo a remoção completa da camada superior do solo agrícola, as autoridades garantem que os produtos produzidos na província são seguros.

No ano passado, pêssegos da região foram vendidos na prestigiada loja Harrods, em Londres. No Japão, os consumidores apoiam os agricultores locais comprando seus produtos.

"A segurança foi comprovada. Acho importante cultivar aqui", diz Haraguchi, que estudou engenharia de software na universidade.

Em 2021, ele conheceu a cidade de Okuma durante um evento para estudantes, onde encontrou pessoas determinadas a trazer vida de volta à comunidade por meio da cultura do kiwi. Depois disso, lançou o projeto ReFruits com um parceiro.

Ambos possuem 2,5 hectares de terra parcialmente cultivada, o equivalente a pouco mais de dois campos de futebol. A expectativa é que a primeira colheita aconteça no próximo ano.

Governo incentiva ocupação da região

Após o desastre, a contaminação radioativa forçou os 11 mil moradores de Okuma a deixarem suas casas.

Ao todo, cerca de 80 mil pessoas foram evacuadas na região de Fukushima por ordem do governo, e mais 80 mil saíram voluntariamente, segundo as autoridades.

Desde então, os reatores da usina afetada foram estabilizados, embora o processo de descomissionamento deva levar décadas.

Partes de Okuma, antes consideradas zonas proibidas, foram declaradas seguras para retorno dos moradores em 2019.

Apenas uma fração da população original voltou, mas jovens de fora, como Haraguchi, estão se mudando para lá aproveitando subsídios governamentais para moradia e apoio a negócios

Atualmente, das cerca de 1,5 mil pessoas que vivem em Okuma, mais de mil são recém-chegadas, incluindo centenas que trabalham na usina (que ainda demanda cuidados), mas também em fazendas e startups de tecnologia.

Consumidores temem radiação

Em Okuma, dezenas de sensores monitoram diariamente os níveis de radiação. No entanto, certas áreas, como algumas colinas, continuam inacessíveis.

Na fazenda de Takuya Haraguchi, análises do solo revelam um nível de radiação ligeiramente acima da média, mas compatível com os padrões internacionalmente aceitos para alimentos.

Testes em frutas de Fukushima também mostram que os níveis de radiação são baixos o suficiente para o consumo, segundo o governo.

Kaori Suzuki, que lidera o grupo de ciência cidadã Mothers' Radiation Lab Fukushima, alerta, no entanto, que os riscos ainda podem existir, agora e no futuro.

Entre outras atividades, o grupo realiza seus próprios testes de radiação no solo e nos alimentos da região, para ajudar os moradores que escolhem consumir produtos locais.

"Não precisamos forçar nossos produtos às pessoas que se sentem inseguras com este lugar e seus cultivos. Precisamos vender nossos produtos para pessoas que compreendam", afirmou Haraguchi.

gq (dw, afp, ots)