Após o “grande salto para a humanidade” de Neil Armstrong, há quase 50 anos, o então presidente americano Richard Nixon ofereceu lembranças da Lua para cada nação do planeta, na época 135, como sinal da boa vontade de seu país.

Dezenas desses fragmentos da Lua desapareceram desde então em condições rocambolescas envolvendo coronéis corruptos, ditadores depostos e outros personagens extravagantes do último meio século.

Joseph Gutheinz Jr., de 63 anos, se propôs a encontrá-los, e ganhou assim o apelido de “caçador de rochas lunares”.

“As pedras da Líbia? Desaparecidas”, diz. “As do Afeganistão? Desaparecidas”.

“Tem gente que procura pedras, eu caço as pedras da era Apollo”, explica à AFP este ex-agente especial da Nasa, em seu escritório em Houston, perto do mítico centro espacial Johnson.

Os astronautas americanos são os únicos que pisaram na Lua, durante as missões realizadas entre 1969 e 1972. Lá coletaram 382 quilos de material lunar, que levaram à Terra.

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Os Estados Unidos deram de presente um fragmento de rocha da primeira e da última missão (Apollo 11 e 17) a todos os países e a cada um de seus 50 estados.

Os pedaços presenteados eram pequenos, do tamanho de um grão de arroz ou de uma bola de gude, cobertos com um plástico transparente e fixados em uma placa de madeira na qual aparecia uma bandeira em miniatura do país receptor.

Dos 270 fragmentos oferecidos ao resto do mundo, dezenas estão em paradeiros desconhecido. Foram roubados, vendidos por milhões de dólares a colecionadores privados ou simplesmente desapareceram ou foram destruídos.

– Operação “Eclipse da Lua” –

“Eram presentes (…) Não estavam destinados a particulares”, diz Gutheinz.

“Eu queria que esses pedaços de história fossem devolvidos aos povos”, insiste o advogado, que está obcecado por essa busca apesar de ter abandonado a Nasa no ano 2000.

Para ele tudo começou em um período em que lutava contra a corrupção entre os terceirizados da Nasa de dia e estudava direito à noite.

“Depois de Apollo 11, estelionatários iam de porta em porta para vender falsos fragmentos da Lua”, lembra. “Eu não gostava nem um pouco disso”.

Lançou a operação “Eclipse da Lua” em 1998 para desmascarar esses golpistas. Publicou então um anúncio falso no jornal USA Today com a ajuda de um agente do serviço de correios: “Procura-se rochas lunares”.


Após algumas semanas, um homem chamado Alan Rosen entrou em contato com eles e ofereceu uma rocha lunar por cinco milhões de dólares.

Gutheinz organizou a compra, mas as autoridades federais se recusaram a dar a ele o dinheiro necessário para a operação. O milionário texano Ross Perot, ex-candidato à Casa Branca, os salvou do apuro fornecendo os fundos.

A venda foi feita em uma sala segura de um banco de Miami.

“Quando pegamos a pedra lunar, vimos que era a de Apollo 17 entregue a Honduras”, diz. “Houve um golpe de Estado militar em Honduras. E para agradecer a um de seus coronéis, o ditador lhe deu a pedra de presente”.

Alan Rosen havia comprado esse fragmento de rocha desse militar por 50.000 dólares.

Após anos de peripécias judiciais, Honduras acabou recuperando seu tesouro.

Desde que iniciou sua busca, Gutheinz encontrou essa rocha, e seus alunos de direito localizaram outras 78.

– “Vou encontrá-la” –

Uma pedra lunar subtraída na Nicarágua também teve uma história com sobressaltos. O fragmento de Apollo 11 acabou nas mãos de um magnata dos cassinos de Las Vegas, Bob Stupak, que o comprou de um missionário batista, que por sua vez o havia adquirido na Costa Rica.

Stupak exibiu a rocha durante algum tempo em seu Moon Rock Cafe. E dois anos depois de sua morte, um representante legal do empresário procurou Gutheinz para saber o que tinha que fazer com ela.


“Entregue-a à Nasa e faça-a prometer que a devolverá a Nicarágua”, respondeu o advogado. “E isso foi exatamente o que fizeram”, afirma.

Gutheinz acredita que a pedra da Espanha está na família do ditador falecido Franco.

“Acredita-se que um dos netos de Franco tentou vender a rocha de Apollo 11 na Suíça, mas que a Interpol o impediu”, explica Gutheinz.

A rocha de Apollo 17 está no Museu Naval de Madri.

Uma das duas amostras da Romênia também desapareceu. “Após a execução de Nicolae e Elena Ceausescu no dia de Natal de 1989, os herdeiros desse horrível ditador comunista a venderam a um capitalista”, conta. “Está em algum lugar; algum dia vou encontrá-la”.


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