José Luiz Villamarim fez história nas telenovelas ao dirigir Avenida Brasil, que está de volta no Vale a Pena Ver de Novo. Vale mesmo rever. A trama de João Emanuel Carneiro, Nina, Carminha. Sete anos mais tarde, o Brasil, com todas as mudanças ocorridas desde então, ainda se reflete naquele espelho. ‘Zé’, como é chamado, dirigiu depois séries, minisséries (Força Tarefa, O Canto da Sereia, Amores Roubados, Justiça). Fez filme, o belo Redemoinho. Ele tem dois novos projetos para cinema, e um deles é a adaptação do romance Crônica da Casa Assassinada, de Lúcio Cardoso, cujo roteiro George Moura escreve para ele. Antes disso, Villamarim dirige o maior filme do audiovisual brasileiro.

De volta às novelas, ele assumiu o desafio de filmar o próximo folhetim das 9 – Amor de Mãe – inteirinho. Outras tentativas já foram feitas, mas eram sempre os dez primeiros capítulos, os 20. Desta vez, serão todos os quase 160, isso se ele não for vencido pelo ritmo industrial da novela. Produzir todo dia 50 minutos de cinema não é tarefa fácil. Há três meses, Villamarim e seu parceiro, Walter Carvalho, trabalham duro. Filmam, artesanalmente. Uma câmera. O também diretor Fellipe Barbosa, de Domingo, foi chamado a integrar a equipe. E toda essa imensa aventura talvez só esteja sendo possível porque a Globo criou seus novos estúdios. O gigantesco Módulo de Gravação 4 (MG4) abriga as três frentes que Villamarim já montou.

Montar e desmontar cenários é oneroso, dá trabalho, exige tempo. Ele criou as três frentes, os ambientes em que vivem as personagens de Regina Casé, Adriana Esteves e Taís Araújo. Ainda não começou a quarta frente, quando as personagens vão interagir e outros vão entrar na história. A quarta frente ainda não havia sido inaugurada quando Villamarim conversou com o repórter, na quinta, 17. E ainda tem outra parte dos cenários, o bairro do Passeio, inspirado em São Cristóvão, que virou cidade cenográfica debaixo de uma ponte da Linha Vermelha, que liga o município do Rio a São João do Meriti. Tudo grande, imenso. Villamarim recebe o jornal O Estado de S. Paulo em sua sala, na Globo. Os olhos brilham. E tudo começou com o texto. “A Globo me propôs que voltasse à direção de novelas. Li a sinopse da Manuela Dias e imediatamente me interessei. Amor de mãe, três e quatro personagens fortes, porque também tem a Isis Valverde.

Mas propus fazermos uma coisa diferente, a novela inteira filmada. Por enquanto, está dando certo. Ainda não estamos no ar – final de novembro – e o ritmo está adiantado. O bicho vai pegar quando a novela estiver andando.”

A novela exige um ritmo industrial – 40 páginas por dia. A filmagem é mais artesanal. Ensaio, câmera – de ponta, a mais avançada da Sony -, rodando, ação! E Villamarim repete quanto for preciso. O importante é ficar bom. Ele mostra, na ilha de edição, cenas já montadas, mas não finalizadas. Ainda faltam detalhes de pós-produção. Iluminação, trilha. Mesmo assim, o que o repórter vê é forte.

Regina Casé de volta ao papel de sertaneja. Lurdes é uma mulher forte. Ainda não é Regina Casé. Uma Lurdes mais jovem vê o marido vender seu filho. Anos depois, e agora, sim, é Regina no papel, ela tenta encontrar o filho na cidade grande. Liga-se a Thelma, Adriana Esteves, de saúde mais frágil e que tem um irmão brutal. Mulheres no universo dominado por homens. Guerreiras. “A pauta do País anda tão negativa que foi o que me atraiu no material da Manuela. Ela vira o jogo com suas mulheres. A Lurdes pode ter algo de outras personagens da Regina, da doméstica de Que Horas Ela Volta?, mas essa energia, essa luta diária pela sobrevivência acho que agrega algo positivo ao momento em que vivemos. E a novela traz algo que me parece novo. As tramas estão muito dependentes da figura do vilão, da vilã. Em Amor de Mãe, a grande vilã é a própria vida.”

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Novo – é bom repetir. Villamarim coloca entre aspas: “Novo.” Pois ele sabe que o novo não existe, ou tem de ser relativizado, em termos de dramaturgia. “Posso querer mudar a forma, mas não sou louco de querer mudar o conteúdo. Novela é folhetim, é melodrama, e o amor de mãe carrega todos os elementos clássicos. A mãe sofredora, a que quer ser mãe, a que vai ser, a que não consegue. Tudo isso é muito forte na trama da Manuela, e eu tenho esse elenco incrível.”

As mulheres de Villamarim. Os homens. Nas cenas que o repórter vê na ilha de edição, a câmera acompanha Juliano Cazarré, o filho de Lurdes – que viu, ainda menino, o irmão mais novo ser levado e agora o busca, com a mãe, na cidade – numa longa caminhada. Villamarim e Walter Carvalho já filmaram esses longos planos-sequência na série Onde Nascem os Fortes.

É a marca deles, e toda a questão é essa. Zé Villamarim está fazendo, com Amor de Mãe, uma novela radicalmente autoral. É uma tarefa gigantesca, considerando-se o ritmo industrial que uma novela tem de ter. Mas ele assumiu, e agora desdobra-se. E ainda supervisiona a série Onde Está Meu Coração, escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg e que foi realizada, em São Paulo, por Luísa Lima. Acompanha a gestação da Crônica, um roteiro de 300 páginas. O mineiro de 56 anos está no auge. Seu nome é trabalho. Ele conversa com o repórter uma hora cravada, e depois some. “Estou indo dirigir”, avisa.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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