É possível dizer que Jorge Jesus é um visionário, porque sabia o que aconteceria quando disse ‘sim’ ao Flamengo, conquistando a Copa Libertadores após 38 anos e revolucionando o futebol brasileiro em apenas seis meses.

Quando o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, foi a Lisboa em junho buscar o português, que vinha de um trabalho discreto no Al-Hilal saudita, o técnico não hesitou em embarcar nessa aventura rubro-negra.

Jesus poderia até ter assumido o Vasco da Gama meses antes, mas as negociações com o Gigante da Colina não prosperaram e foi o Flamengo que apostou pesado no ex-técnico de Benfica e Sporting para dar nova cara ao time, após Abel Braga pedir demissão em maio.

“O dia que decidi treinar o Flamengo, eu falei para meus assistentes: preparem as malas porque vamos trabalhar no Brasil e vamos ser finalistas da Libertadores”, declarou o técnico de 65 anos na véspera da final da competição continental contra o River Plate, em Lima.

O último título importante a nível internacional do Flamengo foi a Copa Mercosul de 1999. Mais atrás, conquistou a Libertadores e o Mundial de Clubes em 1981.

“Quando aceitei esse desafio de ir ao Brasil foi exatamente como um sonho de que estaria na Libertadores e poderia chegar à final e ganhá-la, assim como estar no Campeonato Brasileiro também com chances de vencer”, garantiu o português após vencer por 2 a 1 o River em uma final imprevisível no sábado.

– Rigoroso e detalhista –

Após anos colocando as finanças em ordem, o Flamengo investiu pesado desde o ano passado para voltar ao protagonismo no cenário internacional e conquistar o Brasileirão, competição que venceu pela última vez em 2009.

Jogadores com passagem pela seleção brasileira, como o goleiro Diego Alves e os laterais Rafinha e Filipe Luis, foram chegando e se unindo a jovens talentos como Rodrigo Cario, Gabriel Barbosa, o Gabigol, e Gérson, e à qualidade do uruguaio Giorgian De Arrascaeta, Everton Ribeiro e Bruno Henrique.

Só faltava um técnico que pudesse usar todos esses recursos a favor das metas flamenguistas, que fosse capaz de comandar o vestiário e dar seu toque pessoal.

Foi com isso que Jorge Jesus se comprometeu e em apenas seis meses transformou o Flamengo e revolucionou o futebol no Brasil.

Para isso, Jesus simplesmente aplicou o profissionalismo e o rigor tático europeu no futebol brasileiro.

O técnico luso tomou as rédeas de cada detalhe envolvendo o futebol do Flamengo, como a metodologia de treinos, as obras necessárias nos vestiários e até a pontualidade dos jogadores, que começaram a bater ponto na entrada e saída do CT.

Revolucionou tudo. Em relação ao esquema de jogo, convenceu em pouco tempo os jogadores com uma proposta abertamente ofensiva, mas que obrigava os atacantes e meias a correr muito mais em campo para pressionar com rigor a saída de bola adversária.

– Em busca de mais títulos –

A posse de bola tanto para atacar como para defender foi o princípio mais trabalhado nas primeiras semanas de sua gestão. Paralelamente, foi incorporando conceitos táticos do futebol europeu e soube combiná-los com a qualidade dos jogadores brasileiros.

Também rompeu o paradigma no Brasil de que uma equipe não poderia focar plenamente em duas competições ao mesmo tempo: traçou como objetivo conquistar a Libertadores e o Brasileiro desde o primeiro treinamento.

O tempo, e o trabalho, claro, lhe deram razão.

Longe de ser aquele Flamengo acostumado a dominar completamente seus adversários nesta temporada, a equipe Jesus se viu atrás do placar e controlado por um River Plate durante grande parte da final de sábado da Libertadores, encontrando somente nos últimos 20 minutos as chances para virar a partida e mostrar seu talento.

Mas isso não tira os méritos do trabalho de Jesus e de um Flamengo que busca conquistar tudo.

E neste domingo, o Flamengo se sagrou heptacampeão brasileiro graças à derrota por 2 a 1 do Palmeiras, vice-líder, para o Grêmio.

O Palmeiras tinha a obrigação de ganhar os últimos quatro jogos na temporada e torcer para que o Flamengo perdesse todos para revalidar o título nacional do ano passado.

O Flamengo fechou assim com chave de ouro um fim de semana histórico, no qual conquistou os dois maiores títulos possíveis em âmbito nacional e continental em menos de 24 horas.

E no horizonte está o Mundial de Clubes da Fifa, em dezembro no Catar, e uma final sonhada contra o Liverpool, mesmo adversário que o rubro-negro carioca derrotou por 3 a 0 há 38 anos em Tóquio, quando conquistou a Copa Intercontinental sob o comando de Zico e companhia.

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