Por Guy Faulconbridge e Elizabeth Piper

LONDRES (Reuters) – Dominic Cummings, que foi o principal assessor do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse que seu antigo chefe fracassou na crise da Covid-19 e que ministros ficaram “desastrosamente” aquém dos padrões que o público tinha direito de esperar durante a pandemia global mais devastadora em décadas.

Com quase 128 mil mortes, o Reino Unido tem o quinto maior número mundial de óbitos oficiais de Covid-19, e Johnson demorou para avaliar o significado da ameaça do vírus no início de 2020, quando ele se espalhava da China rumo ao território britânico.

Cummings, o estrategista por trás da campanha do Brexit de 2016 e da vitória folgada de Johnson nas eleições de 2019, disse a uma comissão parlamentar que o governo britânico e o gabinete de Johnson em Downing Street foram lentos demais para perceber a crise.

Ele disse que o Ocidente foi incapaz de ver a crise fermentando e que, no início de 2020, Johnson considerava a Covid um “medo exagerado”, como a gripe suína, enquanto vários dos principais ministros, incluindo o premiê, estavam de férias em fevereiro daquele ano, alguns esquiando.

Era tal o ceticismo de Johnson que ele até disse a autoridades que estava cogitando fazer o principal assessor médico do governo, Chris Whitty, lhe dar uma injeção do novo coronavírus ao vivo na televisão para tranquilizar o público, disse Cummings.

“O primeiro-ministro considerou que era apenas uma história assustadora”, disse Cummings, acrescentando que a visão das autoridades pode ser resumida na atitude de Johnson de “não se preocupem, vou pedir a Chris Whitty para injetar coronavírus em mim ao vivo na TV”.

“Quando o público mais precisava de nós, o governo falhou”, disse Cummings ao Parlamento. “A verdade é que ministros, altos funcionários, conselheiros como eu, ficaram desastrosamente aquém dos padrões que o público tem o direito de esperar de seu governo em uma crise como esta.”

O ex-assessor, que deixou o governo depois de se desentender com Johnson no final de 2020, pediu desculpas às famílias dos mortos por seus próprios erros e os erros do governo britânico.

Johnson rejeitou as críticas de seu ex-assessor, dizendo que não aceitava a acusação de Cummings de que a inação do governo tenha levado a mortes desnecessárias.

“Eu não acho que alguém poderia acusar este governo de ser complacente com a ameaça que este vírus representava, em qualquer momento. Nós trabalhamos para minimizar a perda de vidas”, disse Johnson.

Até agora, as acusações de Cummings não conseguiram prejudicar o governo de Johnson, que viu sua popularidade aumentar devido à rápida distribuição das vacinas contra a Covid-19 ao público.

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