O ator americano Johnny Depp, descrito como um marido violento com a ex-esposa Amber Heard pelo tabloide The Sun em 2018, foi derrotado nesta segunda-feira (2) no julgamento por difamação contra a publicação sensacionalista britânica que, segundo o juiz, escreveu algo “substancialmente verdadeiro”.

O astro, de 57 anos, que expôs seu excessos com as drogas e seu estilo de vida extravagante ao escrutínio público no julgamento de alto risco, pretende recorrer da decisão, considerada “tão perversa como desconcertante” por seus advogados.

“A sentença é tão equivocada que seria ridículo que o senhor Depp não apelasse”, afirmou Jenny Afia, do escritório de advocacia londrino Schillings.

O ator tem muito em jogo no caso: o veredicto do juiz Andrew Nicol ameaça prejudicar ainda mais a reputação que pretendia limpar.

Na opinião do magistrado, os réus demonstraram que o que publicaram era “substancialmente verdadeiro”.

– Carreira em risco –

O processo, celebrado na Alta Corte de Londres, surgiu após uma manchete de abril de 2018 no qual o jornal The Sun questionava como a escritora britânica J.K. Rowling poderia aceitar o “agressor de esposas” no filme “Animais Fantásticos”.

Durante as três semanas de audiências em julho, Depp se esforçou para demonstrar que nunca agrediu Heard, apesar da relação turbulenta de ambos, que foram casados de 2015 a 2017.

O protagonista de “Piratas do Caribe” alegou que a frase do jornal inglês prejudicou sua imagem em Hollywood e colocou sua carreira em risco.

Por este motivo, ele decidiu processar o grupo editorial News Group Newspapers (NGN) e seu diretor executivo, Dan Wootton.

Johnny Depp retomaria no próximo ano o papel de Gellert Grindelwad na série “Animais Fantásticos e Onde Habitam”, um derivado do universo mágico de Harry Potter. Mas o caso deixou em dúvida sua participação no filme.

– Violência conjugal –

“As vítimas de violência conjugal nunca deveriam ser obrigadas a manter o silêncio”, reagiu um porta-voz do The Sun, que agradeceu ao juiz e a Amber Heard por “sua coragem ao testemunhar no tribunal”.

“Este veredicto não é uma surpresa”, afirmaram os advogados de Heard, que destacaram que ela deseja obter justiça em outro caso por difamação pendente nos Estados Unidos.

O NGN baseou a defesa em 14 supostos casos de abuso de Depp contra Heard, com direito a todo tipo de detalhes durante o processo.

E conseguiu convencer o juiz, apesar dos esforços dos advogados de Depp para apresentar a atriz como a verdadeira violenta do casal e uma “mentirosa compulsiva” que teria fabricado durante anos um caso contra o ator para alavancar assim a carreira.

O juiz “ignorou a montanha de provas contra (Heard) por parte de agentes da polícia, médicos, seu próprio ex-assessor, outras testemunhas não questionadas e uma série de provas documentais que desmontaram completamente as acusações, ponto por ponto”, criticou Afia.

O caso, apontado como o “maior julgamento por difamação no século XXI na Inglaterra”, revelou os detalhes mais complicados do casamento tumultuado de Depp e Heard.

O tribunal ouviu histórias escabrosas de abuso de drogas, fezes na cama do casal, suspeitas de infidelidades e um dedo cortado com uma garrafa durante uma briga violenta.

Depois de reconhecer que abusava dos entorpecentes e do álcool, o ator afirmou que em seus anos de casamento com Heard se drogava tanto que “não estava em condições” de agredir a modelo e atriz de 34 anos.

Ele disse que nunca agrediu uma mulher, afirmação apoiada por depoimentos escritos de suas ex-companheiras Vanessa Paradis e Winona Ryder.

Depp e Heard se conheceram em 2011 e se casaram em fevereiro de 2015 em Los Angeles. O divórcio aconteceu dois anos depois.

A atriz mencionou “anos de violência física e psicológica”, acusações que Depp negou com veemência.