Não faz muito tempo que John Kennedy corria o risco de se perder para o futebol… e para a vida. Mas o técnico Fernando Diniz decidiu evitar a repetição da conhecida história de um talento desperdiçado devido a problemas fora de campo.

O atacante, joia das categorias de base do Fluminense, o recompensou em grande estilo ao marcar o gol da vitória por 2 a 1 sobre o Boca Juniors, da Argentina, neste sábado (4), no Maracanã, pela final da Copa Libertadores-2023, a primeira conquistada pelo time carioca.

Batizado em homenagem ao ex-presidente dos Estados Unidos, devido ao interesse do pai pela política norte-americana, o atacante de 21 anos voltou a dividir os holofotes com o atacante argentino Germán Cano, que abriu o placar na final, assim como os dois jogadores haviam feito na virada épica contra o Internacional em Porto Alegre na semifinal.

Mas o ‘Presidente’, como John Kennedy é conhecido, saiu do banco aos 80 minutos, quando o jogo estava 1 a 1, para mudar a cara da partida. Ouviu de Diniz a profética frase: “Você vai fazer o gol do título!”. E foi o que aconteceu. O jogador entrou para a história do clube das Laranjeiras com uma bomba de pé direito, após uma bela jogada coletiva, que colocou o Flu na frente, já na prorrogação.

Ele correu para comemorar com a torcida e foi expulso após receber o segundo cartão amarelo. Ficou em campo por apenas 27 minutos, fiel ao seu histórico de idas e vindas que Diniz se propôs a normalizar, tornando visível a outra face do aclamado ‘Dinizismo’: aquela que prioriza o ser humano.

“Esse menino é um grande vencedor, está se tornando um homem cada vez mais íntegro. Cada vez mais bonito. O futebol perde a rodo talentos como esse no Brasil. Espero de todo o meu coração que ele consiga ter cada vez mais os pés no chão”, disse o técnico, um ex-jogador formado em psicologia, após a semifinal contra o Inter.

– Declaração de princípios –

A filosofia futebolística de Diniz privilegia o futebol ofensivo sem posições rígidas, com jogadores próximos entre si para facilitar as triangulações, e priorizando a busca pela bola em detrimento da cobertura espacial.

Isso, no campo. Fora dele, o olhar do treinador, que compartilha a comando do Fluminense com o da seleção brasileira, se concentra na pessoa por trás do atleta, muitos deles oriundos de favelas e áreas carentes do Brasil.

“O que me fez virar treinador foi o sofrimento que vivi quando jogava, porque não era visto como uma pessoa, mas sempre como alguém que tinha que entregar algo para ser valorizado”, disse Diniz em abril, em um discurso que viralizou nas redes sociais.

Essa declaração de princípios, após vencer o Flamengo na final do Campeonato Carioca, seu maior título no comando de um time até a conquista da Libertadores, voltou à cena diversas vezes após o brilhantismo exibido pelo Fluminense.

Nascido em Itaúna, município de Minas Gerais, John Kennedy se destacou nas categorias de base do Fluminense e estreou profissionalmente com um gol no empate por 3 a 3 com o Coritiba, em janeiro de 2021, no Brasileirão.

Mas as expectativas geradas pelas suas atuações nas categorias de base passaram por momentos difíceis quando foi chamado para se consolidar no profissionalismo, em 2022, devido a casos de indisciplina.

– “Vale ouro” –

Em maio daquela temporada, a polícia apreendeu seu carro após encontrar nele uma pequena quantidade de maconha.

O jogador não teve qualquer relação com aquele delito, pois havia emprestado o veículo a dois amigos. Mas a mídia colocou uma lupa no caso e o alarme foi disparado entre o elenco.

“Já perdemos muitos John Kennedys e seguimos perdendo. Vou fazer todo o possível para ajudá-lo e ter uma vida digna no futebol, principalmente para que, quando ele se aposentar, viva do que construiu no esporte. Essa é a minha intenção com ele”, disse Diniz na época.

O atacante disputou apenas oito partidas no ano passado, todas como reserva e sem balançar as redes. E em setembro ele foi afastado do elenco por uma série de casos de indisciplina, segundo a mídia local.

Mas ele acertou seu rumo com o apoio de Diniz e da equipe e até agora em 2023 explodiu: 33 jogos disputados (treze como titular) e nove gols marcados, sendo quatro deles na Libertadores.

“Semeei isso desde o início do ano. Sabia que meu momento ia chegar, mas não esperava que fosse nas fases finais. Conseguir definir um jogo como esse é inexplicável”, disse ele após eliminar o Inter.

Antes da conquista no Maracanã Diniz havia dito que seu menino já havia merecido “todos os elogios, todos os aplausos”. Agora o feroz atacante é o dono da glória eterna.

“Esse menino é o reflexo do que ele se tornou como pessoa. Vale ouro”, disse o treinador. “Além de extremamente talentoso, está se tornando um homem de bem”.

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