No xadrez da geopolítica internacional, os EUA estão entre os principais jogadores. A atuação do estado profundo americano, desempenhada especialmente pela CIA, mas não só, é ousada e competente, pois atua em todas as partes do mundo. Por exemplo, uma das peças mais importantes do tabuleiro que está nas mãos dos norte-americanos é a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), com bases espalhadas por todos os continentes. Além disso, eles usam outros subterfúgios como apoiar grupos políticos que se insurjam contra governos não alinhados aos interesses de Washington.

Há duas figurações para compreender melhor como as peças estão se movendo. A primeira é o Haiti. O país caribenho é a nação mais pobre da América Latina e passou por duas tragédias recentemente: o assassinato do presidente Jovenel Moïse e o terremoto com magnitude de 7,2, que deixou mais de 2.100 mortos. Mas qual é a vinculação norte-americana? Bem, com o terremoto, nenhuma, mas sobre o atentado que levou ao óbito do presidente, há quem o acuse. Trata-se do embaixador do Haiti nos Estados Unidos, Bocchit Edmond. Ele disse que os agressores usavam coletes e capuzes da DEA, a agência antidrogas estadunidense.

No caso haitiano, foram presos dezoito ex-militares colombianos. A imprensa colombiana diz que todos eram especialistas militares aposentados, e o ministro da Defesa da Colômbia, Diego Molano, ratificou que os homens fizeram parte das Forças Armadas. O Pentágono confirmou que alguns receberam treinamento militar dos EUA, no âmbito de programas de cooperação em segurança com o Exército colombiano.

Sabe-se que o falecido presidente era acusado de diversos atos de corrupção, mas também se sabe que sempre houve predileção norte-americana pelo país. Além disso, os EUA sempre interferiram em assuntos internos de todos os países latino americanos, dizendo-se preocupados com os “valores democráticos”.

Para André Kaysel professor de Relações Internacionais da Unicamp, na verdade, os EUA não estão interessados em estabelecer a democracia no Haiti. “Eles apoiaram os Duvaliers por muito tempo e também a queda de Aristide. Os norte-americanos ajudaram o ex-presidente Jovenel, e, aparentemente, cooperaram com aqueles que se livraram dele”, pontua.

Manobras defensivas no xadrez podem fazer surgir oportunidades de vencer o jogo no médio e no longo prazo. Parece ser essa a estratégia escolhida pelos EUA quando tomaram a decisão de retirar suas tropas, de forma abrupta, do Afeganistão, o que deixou o país a mercê de diversos grupos extremistas. E, consequentemente, força Rússia e China mexerem suas peças. Pois essas organizações são perigosas que podem desestabilizar toda a região.

“A Rússia, igualmente preocupada com o terrorismo e com os riscos de desestabilização de regiões de relevância estratégica para sua segurança, começou desde logo a abraçar militarmente os países vizinhos, como Tadjiquistão e o Uzbequistão ” diz Roberto Abdenur, ex-embaixador brasileiro nos EUA.

Essa análise decorre de o fato da região afegã fazer fronteira com países que são fronteiriços aos territórios russo e chinês. O contexto total em que se deram as duas jogadas ainda não estão plenamente revelados, até porque, a imprensa norte-americana parou de discutir os temas a fundo. Nos cabe, enfim, continuar observando o tabuleiro e os jogadores para saber como as próximas peças vão se mover.