Cinco amigos de 21 a 23 anos, jogadores um pequeno clube de rúgbi da Argentina, foram condenados à prisão perpétua pelo assassinato do jovem Fernando Báez Sosa, espancado até a morte há três anos, um caso que comoveu o país.

A sentença por homicídio duplamente qualificado contra Máximo Thomsen, Ciro Pertossi, Matías Benicelli, Luciano Pertossi e Enzo Comelli foi lida nesta segunda-feira (6) na presença dos condenados, no tribunal da cidade de Dolores, em uma audiência com a presença dos pais de Báez Sosa.

Outros três jovens jogadores de rúgbi – Blas Cinalli, Lucas Pertossi e Ayrton Viollaz – foram sentenciados a 15 anos de prisão, por serem considerados participantes secundários do crime.

A leitura da sentença foi transmitida ao vivo pela televisão. Em Dolores, 220 km ao sul de Buenos Aires, dezenas de pessoas manifestaram sua solidariedade aos pais da vítima.

Thomsen, considerado o líder do grupo, desmaiou ao saber o veredicto de prisão perpétua, pena máxima contemplada pela legislação argentina.

O julgamento, iniciado em 2 de janeiro, emocionou a Argentina, que acompanha a história desde 18 de janeiro de 2020, quando ocorreu o crime contra o estudante de direito de 18 anos, em Villa Gesell, 370 km ao sul da capital.

Os jogadores passavam férias de verão nessa cidade da costa atlântica argentina muito popular entre os jovens, quando, naquela noite, foram expulsos de uma boate onde a briga com Báez Sosa havia começado.

Na rua, os réus isolaram o jovem e o agrediram com socos e chutes, um espancamento que o levou à morte por múltiplas lesões.

– ‘Conviver com a dor’ –

“Estamos satisfeitos. Começa uma nova etapa em nossas vidas. É agora que vamos fazer o luto e aprender a conviver com a dor”, disse Graciela Sosa, mãe da vítima, em entrevista coletiva após o anúncio da sentença.

“Perdoá-los é muito difícil. Eles sabiam o que estavam fazendo. Eles gostaram de matar meu filho, chamando-o de ‘negro de merda'”, disse a mulher.

“A ausência dele também é perpétua e nossa dor também é perpétua”, acrescentou, referindo-se à sentença proferida pelo tribunal contra cinco jogadores de rúgbi.

A promotoria havia pedido prisão perpétua para os oito acusados, evocando a “vontade de matar” de “todos”, com uma “coordenação sincronizada” que impediu que terceiros ajudassem Báez Sosa.

O advogado da família do jovem, Fernando Burlando, também havia reforçado o pedido da pena máxima. Nesta segunda, indicou que apelará para conseguir que todos os oito recebam essa pena.

“O mais importante é que o fato está provado. Os três acusados que se beneficiaram com 15 anos de prisão são o nosso principal alvo”, disse à imprensa.

Nos depoimentos, os acusados, por vezes aos prantos, deram declarações como “peço perdão”, “peço desculpas”, “não houve intenção de matar”, “não houve um plano (de assassinar)” e “estou arrependido”.

Os oito jogadores de rúgbi, todos da pequena cidade de Zárate, perto de Buenos Aires, estão em prisão preventiva desde 2020.

Báez Sosa era filho de uma cuidadora de idosos e de um pedreiro, ambos imigrantes paraguaios. Havia iniciado a carreira advocatícia depois de se formar em uma escola católica e fazer trabalhos de caridade.

O crime gerou uma onda de protestos e apoio à família da vítima, com intensos debates sobre o consumo de álcool por jovens, a construção da masculinidade, a xenofobia e o racismo na Argentina.

No país, o rúgbi é amador e, historicamente, são os setores de classe média e alta que praticam esse esporte, ou assistem aos jogos.

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